Estima-se que, hoje no Brasil, existam 14,8 milhões de pessoas desempregadas. O índice é preocupante e ainda pior entre os jovens. Segundo dados do Atlas da Juventude, esse grupo foi o mais afetado pela pandemia. Prova disso é o aumento do que é conhecido como geração “nem-nem”: pessoas que nem trabalham e nem estudam. Em 2020, esse grupo representava 10% dos jovens. Atualmente, ele chega a 16%.
É o caso de Fernanda Eloy, 19, que gostaria de estar ao menos estudando, mas não tem condições para isso. “Quando a pandemia começou, eu era jovem aprendiz. Tinha tudo para ser efetivada, mas com as dificuldades que a crise trouxe, não me contrataram. Até o momento estou desempregada, não há vagas e não tenho experiência em quase nada. Sem um emprego, não consigo pagar pelos meus estudos”.
Ela conta que até tentou bolsas, mas não conseguiu. “É tudo muito difícil e disputado. E nem sempre essa disputa é justa, afinal, não tenho condições nem de fazer um pré-vestibular atualmente. Estou no ócio e essa situação tem me deixado pra baixo. Tento me convencer de que vai passar, mas não é fácil, me sinto inútil”.
Para o economista Carlos Lopes, os fatores por trás desses índices envolvem muitas variáveis. “Por exemplo, parte relevante dos números das pesquisas à cerca da geração “nem-nem” revela grande percentual de mulheres de condição socioeconômica mais baixa. Contudo, a maioria delas trabalha com os afazeres domésticos e na educação dos filhos. Outra questão inerente à frieza dos dados diz respeito à alta informalidade do trabalho no Brasil. Parte considerável destes jovens, de faixa etária entre 15 a 29 anos, está no mercado de trabalho informal”.
Ele acrescenta que a pandemia teve grande impacto no aumento da geração “nem-nem”. “Além disso, temos o advento do capitalismo e seu desenvolvimento cada vez mais maduro. Há estudos que evidenciam que estas facilidades próprias do capitalismo moderno têm contribuído na essência pejorativa do termo ‘nem-nem’, no que diz respeito a uma acomodação e falta de iniciativa dos jovens, por vezes acobertados pelos pais”.
Para ele, uma das soluções seria a igualdade em oportunidades. “Por isso, é importante melhorar a forma de ensinar na educação pública, uma vez que o modelo conteudista parece não surtir mais efeito. É preciso investir em mão de obra. Essa é uma tônica no Brasil e a resolução desse quadro envolvem políticas públicas eficientes que garantam ensino fundamental, médio e/ ou técnico até o superior de qualidade”.
Oportunidade e estudo
Para o presidente da Associação Brasileira de Estágios (Abres), Carlos Henrique Mencaci, o alto índice de jovens na geração “nem-nem” sempre foi preocupante. “Muitos perderam seus empregos e estágios e ficaram sem ter como custear seus estudos, postergando a entrada na graduação ou mesmo, abandonando-a. Inclusive, 38% já adiou esse ingresso na faculdade, conforme o levantamento da Educa Insights, em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes). Ou seja, vira um efeito dominó. Sobretudo, uma coisa é certa: sem educação, e em um cenário cada vez mais competitivo, esse grupo só tende a crescer”.
Isso impacta negativamente na geração, diminuindo até mesmo o desenvolvimento do país. “Se temos um número alarmante de brasileiros sem poder de compra, a roda da economia fica mais lenta e, consequentemente, demora mais tempo para se recuperar. O jovem representa tanto o presente, quanto o futuro. Garantir a redução da evasão escolar e estimular a contratação dessa parcela da população é a melhor maneira de construir uma realidade mais próspera e igual para todo o Brasil”.
O cenário econômico brasileiro e mundial sofreu duramente com o início da pandemia. O desemprego atingiu uma boa parte da população e, para os jovens, as circunstâncias são ainda mais difíceis. 2021 iniciou com dados menores quando comparado com 2019, ano anterior à pandemia. No primeiro trimestre os dados foram -7%, -8% e -15% em janeiro, fevereiro e março, respectivamente. Todavia, já temos 900 mil estagiários, sendo 686 mil no ensino superior e 214 mil no ensino médio e técnico. Em 2020, eram 700 mil no auge na crise.
Ele ressalta que, com a vacinação acelerada, já é possível vislumbrar uma melhora no cenário. “Algo significativo para a retomada foi a aplicação dos recursos digitais pela maioria das empresas. O home office passou a ser adotado como uma realidade, inclusive no estágio, e isso evitou novas perdas em postos. Essa tendência deve perdurar, pois as organizações aprenderam a gerenciar a distância e os nossos estagiários provaram ser possível atuar de suas próprias casas com acompanhamento e cumprimento de todas as atividades. Foi uma grande revolução nas relações de trabalho no Brasil e em todo mundo”.