“A temperatura entrou em ebulição no relacionamento entre o Executivo e o Legislativo em Minas Gerais. Assim como a água não ferve de uma hora para a outra, essa relação vem esquentando há um bom tempo. O conflito do acordo firmado entre governo, Vale e instituições de Justiça, para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, foi só mais uma efervescência e, cabe agora, a esses dois lados definirem qual será o futuro desse convívio. Se o clima continuar quente, essa água evapora e todos perdem, do contrário, se esfriar, deputados, governo e os mineiros podem ganhar muito”, informa o professor da PUC Minas e cientista político, Malco Camargo.
Já para outros pensadores e jornalistas da crônica política mineira, essa briga entre a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e o Palácio Tiradentes acontece por diversos motivos. Contudo, na avaliação deles, faltou uma liderança política próxima aos moldes do passado, no estilo do então governador Tancredo Neves no que diz respeito às Casas Legislativas e uma figura carismática como a do então presidente Genésio Bernardinho no âmbito do parlamento mineiro. À época, ele, inclusive, chegou a ser temporariamente presidente da Câmara Federal.
Dinheiro, Vale e os prefeitos
Atualmente, estaria sendo trabalhada a criação de um grupo com o objetivo de agregar os ex-presidentes da ALMG, pois, se ele existisse, assuntos como esse poderiam seguir um roteiro diferente. A elaboração desse conselho reuniria nomes conciliadores de longa experiência, entre eles o de Romeu Queiroz, que comandou a Casa por diversas vezes, o do ex-presidente e ex-governador Alberto Pinto Coelho, o do atual presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), José Viana, e os ex-dirigentes Antônio Julio, Antonio Andrada, Mauri Torres, Anderson Adauto e Adalclever Lopes.
Com relação ao acordo firmado para viabilizar o repasse de mais de R$ 1,5 bilhão dos cofres da Vale diretamente aos municípios foi declarada uma guerra. O presidente da ALMG, Agostinho Patrus (PV), foi para o confronto com o secretário-geral do Governo, Mateus Simões, dando a impressão que o duelo se travou com certa dose de personalidade própria.
De acordo com especialistas da área técnica, o dinheiro a ser repassado ao cofre dos municípios acontecerá em suaves prestações mensais. Ou seja, já tem prefeito querendo gastar por antecipação e isso poderá levar a uma verdadeira frustração. Entre o que ficou politicamente acertado e o valor a ser efetivamente entregue, haverá um longo caminho. Além disso, a fiscalização por parte do Ministério Publico e do próprio TCE-MG será rigorosa.
Consta nos meandros políticos que uma média de 30 deputados incentiva Patrus a encabeçar esse confronto com o governo, mas, na hora de bater de frente, inclusive com auxiliares do governador Romeu Zema (Novo), a tarefa cabe exclusivamente ao presidente da Casa. Muitos dos seus pares ficam em silêncio.