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Aracnoidite: com diagnóstico rápido, inflamação rara pode ser controlada

A morte precoce da atriz Mabel Calzolari, 21, comoveu o país. Nas redes sociais, a jovem argentina, que se descrevia como “abrasileirada”, costumava compartilhar as várias fases de sua luta contra a aracnoidite torácica, uma doença rara que causa dores fortes e constantes e que pode desencadear outras enfermidades. Mas, de acordo com Renato Chaves, neurocirurgião e especialista em cirurgia no cérebro e na coluna, apesar de grave, o quadro pode ser controlado, especialmente, se o diagnóstico for precoce.

A aracnoidite é uma inflamação da aracnóide, uma fina membrana que envolve toda a medula espinhal. Isso pode acontecer na parte torácica, na cervical, na coluna lombar e no crânio, em volta do cérebro, e por diferentes razões. “Embora seja rara, a doença pode ocorrer por infecção de vírus ou bactérias, por uma compressão dos nervos espinhais, por uma pancada forte na coluna, em um acidente, por exemplo, pelo uso de substâncias químicas, pela complicação de uma cirurgia na coluna ou, até mesmo, devido à aplicação de anestesia ou analgésicos”, esclarece o neurologista.

O especialista explica que qualquer pessoa pode contrair a doença, mas, na prática, ela afeta mais mulheres. “O fato delas receberem anestesia espinhal ou epidural para o parto pode ocasionar a inflamação da membrana que protege a medula e o cérebro”, afirma. Esse foi o caso de Mabel, que começou a sentir os sintomas da aracnoidite, na altura do tórax, após a cirurgia de cesariana do seu único filho, Nicolas, em 2019, ocasião em que foi aplicada a anestesia raquianestesia na sua coluna. A partir disso, a atriz começou a travar uma luta que envolveu 10 procedimentos cirúrgicos e o desenvolvimento de meningite, outra inflamação rara que acomete a membrana que envolve o cérebro e toda a medula espinhal. Na fase final, amigos relataram nas redes sociais que a atriz tinha convulsões e não reconhecia familiares.

Tratamento

O neurocirurgião explica que a cura para aracnoidite ainda não foi encontrada, mas, na maior parte dos casos, pode-se aliviar o sofrimento crônico e controlar outros sintomas que possam ocorrer.

“Uma das formas de tratamento mais utilizadas é a fisioterapia, que pode ajudar bastante no controle da dor e na melhora dos déficits neurológicos. A cirurgia também pode ser uma opção, porém, normalmente é usada como último recurso, quando outras formas não tiveram sucesso, uma vez que ela traz alívio, mas pode gerar complicações. Outra alternativa é o tratamento com cateteres, para controle álgico secundário. O paciente com aracnoidite deve ser acompanhado pelo seu médico para conter a doença. Desta forma, a qualidade de vida pode ser mantida”, afirma Chaves.

Para que seja controlada, é necessário um diagnóstico precoce e, para isso, qualquer dor persistente na coluna que irradia e dificulta a pessoa a andar ou urinar precisa ser investigada por um médico rapidamente. “O principal sinal é a dor crônica constante, que pode ser no local da inflamação ou em outros lugares. O processo inflamatório pode atingir o nervo, comprometendo a sensibilidade e a força. Por isso, o paciente pode sentir sensação de queimação, formigamento, perda de controle da bexiga e intestinos, cãibras e espasmos musculares”, informa Chaves.

Em caso de suspeita da inflamação, o médico pode pedir uma tomografia computadorizada, assim como uma ressonância magnética para realizar o diagnóstico. De acordo com o neurologista, não há na literatura da medicina uma taxa de letalidade para a doença. “Os óbitos são raros. As perdas podem acontecer por outras patologias somadas à aracnoidite”, esclarece.