De acordo com levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os preços de bens e serviços monitorados pelo governo, como energia elétrica, gás, combustíveis e medicamentos, medidos pelo Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, voltaram a subir para todas as classes brasileiras no último mês. Entretanto, as famílias muito pobres, que ganham menos de R$ 1.650 mensalmente, foram as mais afetadas, com inflação de 0,92% em maio. Já os mais ricos – com renda entre R$ 8 mil e R$ 16 mil –, sofreram impacto de 0,49% no mesmo período.
“Uma pessoa que recebe um salário mínimo é extremamente mais afetada pelo aumento de algum alimento da cesta básica do que o cidadão que ganha 10 salários. Uma família de classe rica tem uma margem de manobra bem maior e pode fazer substituições ou até cortes de alguns itens considerados dispensáveis e sentir o impacto dos avanços nas gôndolas bem mais leve. Isso não acontece com lares mais pobres que já sobrevivem com o mínimo do mínimo. Normalmente, não há onde realizar cortes ou substituições”, exemplifica Leandro Diniz, economista e professor de comércio exterior.
Segundo o Ipea, os grupos que mais contribuíram para a alta da inflação foram os de habitação e transportes. Os reajustes de energia elétrica (5,4%), tarifa de água e esgoto (1,6%), gás de botijão (1,2%) e encanado (4,6%) foram os principais focos de pressão inflacionária em relação à moradia. Já a categoria de transporte foi impactada pelo aumento da gasolina (2,9%), do etanol (12,9%) e do gás veicular (23,8%).
Uma das quedas registradas beneficia diretamente a população de renda mais alta: o preço das passagens aéreas caiu 28,3%. O grupo saúde e cuidados também influenciou no crescimento da inflação em maio. Enquanto as famílias pobres sofrem com a alta de 1,3% nos medicamentos, os mais ricos arcaram com o reajuste de 0,67% nos planos de saúde.
Em Belo Horizonte, pesquisa do Mercado Mineiro, aponta que o preço médio do gás de cozinha teve elevação expressiva de janeiro a junho de 2021. No primeiro mês do ano, um botijão de 13kg custava, em média, R$ 84,81. Atualmente, o mesmo produto essencial à subsistência passou para R$ 92,38, um aumento de R$ 7,57 (9%).
Os valores dos alimentos que compõem a cesta básica também subiram em 15 capitais, incluindo BH (R$ 565,78), segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). De acordo com a entidade, com base na cesta mais cara do país que, em abril, foi a de Florianópolis (R$ 634,53), o salário mínimo deveria ser R$ 5.330,69, valor que corresponde a 4,85 vezes o piso nacional vigente de R$ 1.100. O cálculo é feito levando em consideração uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças.
Na análise de Diniz, os índices eram esperados. “Desde o ano passado, temos uma desaceleração da economia, mas, ao mesmo tempo, tivemos uma pressão significativa na produção. Hoje, o que sentimos no Brasil é que estamos tendo menos produção de alguns setores, devido a uma série de fatores e isso tem provocando um ágio que pressiona altas. Portanto, como a economia não decolou, nós temos um benefício do governo que gera consumo e temos uma diminuição no nível de produção de vários segmentos, a inflação é a consequência esperada”, afirma.
Para o economista, os aumentos vão continuar. “Não temos um cenário em curto ou médio prazo de alguma alteração nos critérios de inflação. Vivemos uma pressão de produção internacional, nacional, de um consumo subsidiado pelo governo, portanto, inevitavelmente, vamos manter esse tipo de alta. Nós ainda não temos uma política pública de substituição ou de fomento para que as pessoas voltem a consumir novos produtos e serviços que possam substituir aqueles que estão com o preço subindo absurdamente”, diz.
Diniz finaliza usando o preço da gasolina que, de acordo com a pesquisa do Mercado Mineiro, em um período de 15 dias, passou do preço médio de R$ 5,78 para R$ 5,813 (+0.57%). “Atualmente, nós temos a gasolina em alta contínua e o álcool sobe tanto quanto. Então, o governo está bastante fragilizado com uma economia vulnerável em termos do que pode ser feito para amenizar a inflação, aumentar o desenvolvimento e aliviar as classes menores”.