Não é novidade que a pandemia afetou as expectativas e hábitos financeiros da população. Em meio à crise causada pelo novo coronavírus, a preocupação com os gastos e a vontade de aprender a controlar melhor o dinheiro cresceram. Isso é o que mostra a pesquisa “O Bolso do Brasileiro”, produzida em parceria pelo Instituto Locomotiva e pela Xpeed.
A necessidade por informação e ferramentas que ajudem no controle do orçamento tem crescido entre a população. A análise mostra, inclusive, que para 63% das pessoas, a situação financeira tem interferido na realização de seus sonhos. O número corresponde de seis em cada 10 brasileiros.
O estudo também aponta que sete em cada 10 entrevistados passaram pela experiência de ver as contas não fecharem nos últimos 12 meses. E 90% gostariam de saber como investir, planejar recursos para o futuro e organizar receitas e despesas.
A análise mostrou ainda que três a cada 10 pessoas afirmaram que o número de contas em atraso aumentou durante a pandemia. Se houvesse uma despesa inesperada no valor de seu rendimento mensal, 41% não teriam como pagá-la. Outra preocupação é com relação ao planejamento da aposentadoria. Apenas 31% estão confiantes de que fizeram boas escolhas. Com isso, 41% passaram a pesquisar mais sobre o tema na pandemia. Oito em cada 10 dizem ter objetivos definidos ao aprender a gerir com eficiência o orçamento. Entre os principais estão o pagamento de dívidas e a formação de uma reserva para enfrentar emergências.
Para 58%, a atual situação financeira impede a realização de coisas que consideram importantes. A administradora Keyla Lopes explica que o sonho é, para a maioria da população, utópico, que só pode ser vivenciado caso algo extraordinário aconteça. “Como ganhar na loteria ou receber uma herança. Esse tipo de pensamento impede uma definição de objetivos, prazos e estratégias. Pensando assim, não se cria uma reserva financeira que auxilie em transformar os sonhos em algo tangível”.
Ela acrescenta que a pandemia afetou ainda mais a situação financeira no Brasil porque menos de 90% da população guarda dinheiro pensando em longo prazo. “Quem entrou na crise sanitária sem reserva provavelmente passou por dificuldades”. O planejamento aliviaria os impactos, além de auxiliar em diversos outros campos como o mental, físico e social. “Algumas pesquisas mostram que 70% das pessoas inadimplentes sofrem de ansiedade, insônia, dores no corpo, estresse entre outros distúrbios”.
A especialista diz que a educação financeira passou a ser o tema mais discutido do Brasil nos últimos 2 anos. “Crise econômica, disputas políticas, impasses históricos, questões sociais, pandemia e bolhas são alguns dos assuntos que intensificaram a busca por conhecimento ou pelo menos aguçaram a curiosidade dos brasileiros. Dicas como começar a anotar os gastos e juntar um percentual do salário são simples, mas funcionam”.
Sonhos x Planejamento
Keyla acrescenta que pessoas entre 25 e 28 anos possuem a probabilidade de ganhar mais gastando menos tempo. Mas, que é normal que esses jovens escutem que, para ser bem-sucedido, é necessário trabalhar em algo que pague bem. “Aconselho cada um a pensar em si mesmo, observar o cenário e assumir responsabilidades”.
A administradora acrescenta que muitas pessoas bem-sucedidas financeiramente passaram por vários erros, aprenderam com eles e seguiram em frente. “Creio que a solução para realizar seus sonhos está em se autoconhecer, refletir sobre o que você quer e o que é preciso fazer para chegar lá”. Ela ressalta que alguns estudos mostram que, embora 64% dos brasileiros afirmem pagar suas contas em dia, 56% assumiram não fazer orçamento doméstico ou familiar. “Pior, 69% asseguraram não ter poupado nenhuma parte da renda recebida nos últimos 12 meses. Isso mostra como somos despreparados quando o assunto é a vida financeira”.
Para começar a se organizar financeiramente e conseguir alcançar a realização de sonhos, o principal ponto é fazer um balanço de si mesmo. “Entender seu momento financeiro; ter uma visão clara e real do seu fluxo de caixa particular; conhecer suas fontes de receitas e despesas e gerenciar bem seus ativos e passivos econômicos. Sugiro cultivar a curiosidade sobre o assunto e procurar auxílio de um profissional”, conclui.