A fala de Jair Bolsonaro, propondo o retorno da votação brasileira com cédulas de papel, foi feita quando era iniciado o processo para escolha do presidente dos Estados Unidos. Por certo, quando Bolsonaro ainda nutria a esperança de que Donald Trump conseguiria se sagrar vitorioso, o próprio atual mandatário americano colocou em xeque o modelo usado nas eleições. Por aqui, o presidente do Brasil também mencionou a possibilidade de haver suspeição em relação aos resultados das urnas.
Estranhamente, Bolsonaro se posiciona sobre esse regime eletrônico da votação no país somente agora, depois de 2 anos de mandato. Na época do pleito, ele nada comentou sobre o assunto, mesmo porque, até onde se tem conhecimento, o nosso sistema é avaliado como um dos mais modernos do mundo, inclusive, quando se trata de eleição destinada à escolha de presidente da República, observadores de organizações internacionais são convidados a acompanhar a disputa para não deixar qualquer dúvida quanto a seriedade do processo.
Falácia sobre a possibilidade de interferência ou de erros sempre existem, mas nenhum caso de fraude foi registrado nos últimos 15 anos no Brasil, e isso por si só já é garantia de que tudo vai indo muito bem, obrigado. O derrotado de Bolsonaro, o petista e ex-senador Fernando Haddad sequer ousou levantar suspeita sobre o resultado eleitoral. Se ele, que foi preterido na oportunidade, não questionou, por qual motivo o presidente se dignou a abordar o assunto? Muito, provavelmente, por causa de sua aproximação com o ainda presidente norte-americano. Ou seja, uma tese puramente ideológica. Nada mais que isso.
A verdade é que a sociedade organizada precisa ficar ativa para evitar movimentos com interesse antidemocráticos. As pressões para não haver eleições ou o emprego de obstáculos no caminho com o fito de subverter a ordem civil sempre irão acontecer. Haja vista o recente movimento de prefeitos e vereadores defendendo a prorrogação de seus próprios mandatos por mais 4 anos, sob alegação de falta de condições para a realização das eleições em 2020, tendo em vista a disseminação do novo coronavírus. Coube então, a mão firme e a salutar resiliência do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, que comandou uma reação contrária a essa possibilidade. Foi então que conseguiu, mediante muito diálogo, junto às demais autoridades, no segmento da saúde e do próprio Congresso Nacional, estabelecer um novo prazo, passando o pleito da primeira semana de outubro para 15 de novembro. Os protocolos colocados em prática pelo TSE, inclusive o distanciamento social, entre outras medidas destinadas a evitar a propagação da COVID-19 está funcionando, evitando aglomeração neste período de campanha política.
Ainda bem que a recente fala de Bolsonaro sugerindo o retorno ao arcaico sistema de votação por meio de cédulas de papel não empolgou. Para a sugestão do presidente, fica a indagação. Ele usa as redes sociais, ou seja, o sistema eletrônico para se manter conectado e comunicar diariamente com milhões de seguidores. Então, como ele pretende seguir com essa postura caso as eleições voltem ao modelo ultrapassado das cédulas? Porventura estaria sua Excelência disposta a enviar “cartinhas” manuscritas a milhões de fãs ao invés de apenas twitar?