Imagine a seguinte situação. Você recebe uma ligação e, do outro lado da linha, uma voz passando credibilidade e profissionalismo diz ser um funcionário do seu banco. Ele demonstra preocupação. Pode ser que já tenha em mãos alguns dos seus dados ou que, sem você perceber, obtenha essas informações durante a conversa usando técnicas de convencimento. Ele teme que seu cartão tenha sido clonado, mas diz que não precisa se preocupar, pois já tomou as medidas necessárias para sua segurança: mandará um motoboy do banco pegar o cartão que será investigado. Para soar ainda mais convincente, diz que você deve cortar o cartão ao meio. Pronto, o golpe do motoboy foi concluído com sucesso. Isso porque o que interessa é que o chip permaneça intacto.
As artimanhas para aplicar fraudes financeiras ficam cada vez mais sofisticadas e as vítimas são, em sua maioria, pessoas idosas. O que ficou ainda mais preocupante com a chegada da pandemia, já que atendimentos de vários setores passaram a ser on-line, ou seja, a situação acabou se tornando um argumento de convencimento usado por golpistas. Um levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revela que, desde o início da quarentena, houve um aumento de 60% em tentativas de golpes financeiros contra idosos. E, cerca de 70% das fraudes estão vinculadas a tentativas de estelionatários em obter códigos e senhas.
“Com o uso mais intenso dos meios digitais para atividades cotidianas durante a pandemia do coronavírus, criminosos aproveitam o maior tempo on-line das pessoas para tentar aplicar golpes. Parte disso pode ser fruto da falta de familiaridade das pessoas de mais idade com meios digitais e novas tecnologias. As quadrilhas se aproveitaram da vulnerabilidade dos consumidores, em especial dos mais velhos, para aplicar fraudes por meio da engenharia social, que consiste na manipulação psicológica do usuário para que ele forneça informações confidenciais, como dados pessoais e senhas”, explica Walter de Faria, diretor adjunto de Serviços da Febraban.
Diferentes tipos
O chamado golpe do motoboy teve aumento de 65% durante o período de isolamento social, mas ele não é o único. Entre os exemplos de como os golpistas agem, estão as ligações para a casa dos clientes, nas quais o estelionatário diz ser da instituição financeira e pede para confirmar algumas informações, como dados pessoais e senhas. Ao fornecer documentos sigilososos, como a senha, o consumidor expõe sua conta bancária e seu patrimônio aos golpistas. Há também casos em que o fraudador se apresenta como um “funcionário do banco” e pede para o correntista realizar uma transferência como um teste. Os bancos, porém, nunca ligam para clientes para pedir transações.
Durante o período de quarentena, os bancos chegaram a registrar aumento de mais de 80% nas tentativas de ataques de phishing, tipo de golpe que se inicia por meio de recebimento de e-mails que carregam vírus ou links e que direcionam o usuário a sites fakes, que, normalmente, possuem remetentes desconhecidos ou falsos. Nesse caso, a orientação é não clicar e entrar em contato com o banco pelo telefone.
Em caso da vítima cair em alguma fraude, Faria explica que a possibilidade de se recuperar o valor perdido vai depender de cada instituição financeira. “Cada banco tem sua própria política de ressarcimento, que é baseada em análises aprofundadas e individuais considerando as evidências apresentadas pelos clientes e informações das transações realizadas”, diz.