A pandemia mudou todas as nossas formas de relacionamento, inclusive, na de trabalhar. Segundo levantamento da Fundação Instituto de Administração (FIA), 46% das empresas brasileiras adotaram o trabalho remoto desde o início do isolamento social no país. Por outro lado, uma pesquisa da ESET, companhia de segurança da informação, aponta que 42% das corporações admitiram que não estavam preparadas em termos de equipamento e conhecimento de segurança on-line. Já na percepção dos funcionários, 61% acreditam que as ferramentas de proteção necessárias para trabalhar de forma segura não foram fornecidas pelas companhias.
E a falta desse suporte ao trabalho feito de casa acontece em um cenário preocupante: o crescimento dos ataques cibernéticos. De acordo com dados da Fortinet Threat Intelligence Insider Latin America, ferramenta que coleta e analisa incidentes de segurança cibernética em todo o mundo, foram contabilizadas 85 bilhões de tentativas de ataques virtuais no ano de 2019, uma média de 65 milhões de tentativas ao dia. Só nos últimos 3 meses, já ocorreram no Brasil mais de 1,6 bilhão de ataques cibernéticos.
“A realidade mostrou que, conforme o problema de saúde progredia globalmente, as atividades maliciosas aumentavam. Os cibercriminosos começaram a aproveitar da preocupação da população e lançaram várias campanhas maliciosas usando o tema COVID-19 como pretexto para enganar os usuários, bem como o fato de que muito mais pessoas estão trabalhando remotamente ou passando mais tempo conectado à internet, em comparação com antes, para realizar atividades como fazer chamadas de vídeo, assistir ou baixar filmes, jogar videogames, fazer compras on-line ou simplesmente procurar informações”, explica Camilo Gutierrez, chefe do Laboratório de Pesquisa da ESET América Latina.
Ainda conforme dados da empresa de segurança da informação, que ouviu 1.200 usuários, quase 90% afirmaram que, desde o início do período de isolamento social, utilizam mais dispositivos eletrônicos. Desses, mais de 85% disseram ter baixado aplicativos ou ferramentas que nunca usaram antes para executar suas tarefas. E, embora 54% tenham assegurado que o download era realmente seguro, 38% alegaram que não verificaram.
Outra informação que chama a atenção é o aumento das campanhas de phishing (tentativa de enganar usuários para “pescar” informações confidenciais como senhas e número de cartões de crédito) que usavam a pandemia para obter dados das pessoas. De acordo com os pesquisados, 44% afirmaram ter recebido e-mails de phishing que usavam o tema COVID-19. Além disso, 84% disseram trabalhar usando seus dispositivos pessoais. Desses, 32% possuem um antivírus, 20% têm conexão VPN (Rede Virtual Privada) e 12,5% utilizam criptografia das informações. No entanto, 51,6% não possuem nenhum desses mecanismos de segurança.
Para Gutierrez, a pandemia evidenciou o despreparo das empresas quando o assunto é segurança da informação. “O novo cenário levantado pela crise sanitária exposta é que, embora na esfera corporativa existam aqueles que já adotaram os mecanismos necessários para realizar esse processo de transformação digital e conseguiram se adaptar ao novo cenário sem grandes problemas, algumas organizações que ignoraram ou adiaram a decisão de realizar essa transição, foram afetadas pela falta de disponibilidade, integridade ou de confidencialidade de suas informações”, acredita.