Creio que a maioria dos leitores já ouviu falar da Torre de Babel. Tudo bem que muita gente não saiba o que é (foi). Se você está entre esses, não se assuste. Quem sou eu para explicar, mas lá vai:
Pedras encontradas na antiga Babilônia (atual Iraque) com inscrições que seriam datadas do século 6 a.C. demonstram, segundo estudos científicos, que a Torre de Babel realmente existiu. Confirmando a Bíblia (Gênesis 11,1-9), teria sete camadas de estrutura e seus construtores, liderados por Nabucodonosor II, eram movidos pelo vício do orgulho. Diziam que buscavam unidade e estabilidade, mas colheram divisão e dispersão. Por isso foram punidos com a confusão das línguas. Babel, é bom que se diga, significa literalmente confusão. Se foram duas e não uma torre da antiguidade, não vem ao caso hoje.
Porque hoje, agora, neste momento, nosso país vive envolto numa imensa e alucinante Torre de Babel. Fato é que, enfrentando a ciência e a medicina coerente, a politicagem rasteira que domina o Brasil deixa todo o povo aturdido frente a um vírus assassino que só não assusta quem precisa de um exame de sanidade mental, pois apenas se preocupa com eleição.
Afinal, quem está certo? Que opinião o povo – do qual faço parte e espero que você, leitor, seja e se considere integrante também – deve seguir na tentativa de sobreviver com sua família: governadores e prefeitos como Kalil em Belo Horizonte e Covas em São Paulo, que se aliam às sábias recomendações da Organização Mundial de Saúde, juntamente com cientistas, médicos, sanitaristas e equipes de saúde que enfrentam a pandemia que dizima dezenas de milhares de pessoas mundo afora e trabalham à exaustão para minorar a matança; ou políticos de meia tigela que, nem Deus sabe como, se mantém em cargos para os quais são comprovadamente ineficazes. Ah, mas estes últimos sabem como enganar o povo. E enganam mesmo.
É triste, é descabido, é nojento, termos pessoas especializadas em politicagem no pior sentido da palavra e que mentem com a cara limpa. Fazem ouvidos moucos ao Imperial College, renomada instituição de ciência, tecnologia e medicina de Londres, que se baseando em dados reais de 202 países, calcula que com medidas de isolamento social intensivo o Brasil atingirá 44 mil mortos devido ao coronavírus, mas se seguir a ignóbil instrução que a politicagem eleitoral planeja vai ultrapassar um milhão de mortos. Sim, há hediondos mandatários que não estão nem aí para os mortos – claro, desde que não sejam seus eleitores de cabresto – e acham que vai tudo bem, muito bem, desde que a economia não sofra piores consequências.
Num momento terrível como o atual, ainda temos que engolir, exercendo mandato, um deputado federal que assumiu a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara após não conseguir ser embaixador. Infame, Eduardo Bolsonaro culpou a China pela pandemia de corona vírus. De igual laia, seu irmão Carlos perguntou no twitter quantos votos de brasileiros teve o presidente da OMS para falar da saúde no Brasil. Uma atitude indigna até para um boçal nato!
Tais filhos, tal pai: de todo o mundo surge fortes críticas contra a família apontada como a principal aliada da pandemia, porque sai às ruas tirando selfies e ajudando a transmitir o vírus assassino, no tipo de ato que é um atentado à vida. Respeito é o que a humanidade consciente pede. As loucuras da família Bolsonaro são condenadas em todo o mundo, como comprova a atitude inédita que Twitter, Facebook e Instagram, apagando posts que pai e filhos assinaram.
Espero que quando este artigo for publicado no final de semana, o homem que está mandando no País já não esteja sonhando em isolar ainda mais o Ministro da Saúde que, mesmo aos trancos e barrancos, se opõe à posição antivida que ele, “capitão-atleta”, tenta impor. Palmas para Luiz Henrique Mandetta, avis rara dentre a equipe palaciana, que perguntou com coragem ao presidente se está preparado para ver caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas com transmissão via internet. Não, ministro, ele não está nem aí.
Como até o seu ídolo de barro Trump já voltou atrás com relação ao denominado “resfriadinho”, a esperança é que esse tal de Boçalnaro peça perdão e mude de atitudes, seguindo o exemplo do prefeito de Milão, que lançou uma campanha contra o isolamento em 26 de fevereiro, quando a Itália contabilizava 258 casos e 12 mortos, e agora assumiu o tamanho de seu erro porque os números ultrapassaram 100 mil casos confirmados e mais de 12 mil mortos.
Em tempo: ninguém se assuste com o termo Boçalnaro. Boçal significa rude ou ignorante. Na gíria brasileira também é aquele indivíduo que age com arrogância e pouca sensibilidade. E não é o caso?
* Sérgio Prates
Jornalista Reg. 1229 – MG / e-mail pratesergio@terra.com.br