Embalagens de salgadinho, garrafas PET, sacos plásticos e até mesmo latinhas de alumínio são apenas alguns exemplos dos lixos descartados diariamente. Segundo estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cada brasileiro produz, em média, 387 kg de lixo por ano. De todo resíduo produzido, apenas 3% é efetivamente reciclado. Sobre esse assunto, o Edição do Brasil conversou com Gabriela Otero, coordenadora técnica da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Qual é a situação do país em relação a reciclagem?
A reciclagem no Brasil está engatinhando, apesar de todas as campanhas e debates sobre a proteção de recursos naturais. A nossa estimativa é de que apenas 3% dos resíduos secos sejam reciclados, ou seja, materiais como papel, embalagens, vidro, papelão e plástico. Se levarmos em conta também os resíduos orgânicos, o percentual não passa de 5% de tudo que é gerado pela sociedade.
Um levantamento mostrou que, em 2018, foram gerados 79 milhões de toneladas de lixo. Na comparação com o ano anterior, houve um aumento de 1%, o que significa um crescimento maior do que a população do país.
Os números demonstram que o acesso ao consumo e a oferta de produtos com embalagens são fatores que contribuem para esse crescimento contínuo. Além disso, desperdiçar comida, comprar mais do que pode consumir ou jogar fora o que está perto de vencer são hábitos dos brasileiros . Os restaurantes também costumam servir uma porção maior do que uma pessoa consegue comer, o que gera desperdício.
A quantidade reciclada poderia ser maior?
Se tivéssemos eficiência, políticas públicas, estímulo de impostos e mais consciência da população, cerca de 85% de todo o lixo que produzimos poderia ser reciclado e teríamos o mínimo possível descartado em aterros sanitários. Esse restante de 15% é aquela parte que não tem reaproveitamento. A grande questão é ter o caminho correto desde o cidadão até as indústrias que precisam fazer sua parte.
Qual é o perfil do resíduo produzido no Brasil? Tudo pode ser reaproveitado?
Metade dos materiais produzidos são restos de alimentos, o que chamamos de fração orgânica. São resíduos de frutas, legumes, verduras e comida preparada. Cerca de 30% é a fração seca, como embalagens, vidro, papel, plástico, papelão, entre outros. O restante são rejeitos que ainda não tem viabilidade econômica e técnica para reciclar ou reaproveitar. São restos de tecidos, madeira e resíduos de banheiro.
Para os resíduos orgânicos existem as compostagens e várias pessoas fazem o processo em casa, comunidades e empresas. Também é possível gerar energia e gás a partir do lixo orgânico. A fração seca é a que as pessoas conhecem um pouco mais. É a chamada reciclagem mecânica, ou seja, os objetos descartados podem ser úteis novamente. Isso significa que os materiais podem ser reutilizados e virar novas versões de si mesmos.
Como realizar o processo? O brasileiro conhece as regras?
O primeiro passo é se informar do dia e horário da coleta seletiva no seu bairro. Caso não tenha esse serviço, o ideal é procurar onde tem um ponto de entrega voluntária da prefeitura ou até mesmo de uma cooperativa para levar os materiais recicláveis. O correto é separar em dois sacos, sendo um para resíduos orgânicos e lixo não aproveitável e outro para os materiais secos.
Os secos precisam estar mais ou menos limpos, o que também é uma polêmica. A gente não quer que o cidadão passe esponja com detergente, pois isso gera ainda mais poluição e desperdício de água. A ideia é apenas tirar o excesso de sujeira. Também existem municípios que possuem alguma iniciativa para fazer compostagem. Se tiver disponível na localidade, o correto é separar o orgânico do lixo não aproveitável.
De fato, as pessoas querem participar, mas, às vezes, se confundem e não buscam informações adequadas. Acham que o lixo será reciclado automaticamente pelo simples fato delas fazerem a separação dos objetos. No entanto, é necessário fazer o resíduo chegar até o destino adequado.
Qual a importância dos catadores?
Eles fazem parte do sistema e desempenham um papel fundamental na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O posicionamento da Abrelpe é que essas pessoas deixem de ser catadoras e passem a ser trabalhadoras do setor de resíduos, formalizadas e com remuneração para conseguir prestar um serviço adequado. A informalidade tem o seu lado ruim, pois ficamos sem saber o quanto reciclam ou coletam nas ruas. Isso porque vendem para um intermediário, que depois comercializa para indústria e o número não entra nas estatísticas.
Como a reciclagem pode beneficiar as empresas?
Na verdade, a reciclagem beneficia toda a sociedade. As empresas quando são geradoras de embalagens e fazem o retorno do material para a cadeia produtiva ganham reconhecimento social e ambiental. Por outro lado, quando são apenas geradoras precisam fazer a gestão adequada do lixo. O benefício é estar em conformidade com as leis.
Não podemos falar de ganhos financeiros, pois na área de resíduos é mais investimento e geração de emprego e renda do que lucro. Muitos pensam que o lixo vale milhões, mas ele nada mais é do que uma ponta do processo produtivo que gerou desperdício.
Desconhece as regras!
No Brasil, uma pesquisa da consultoria global Ipsos feita em 28 países aponta que 54% dos entrevistados não sabem como funciona a coleta seletiva de lixo reciclável em sua região.