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70% das mulheres com câncer de mama precisam passar pela mastectomia

“Descobrir o câncer me fez ter as piores sensações possíveis. Tive medo de tudo. E quando meu mastologista disse que não seria possível salvar a minha mama, caí em uma tristeza profunda. Após a cirurgia, não conseguia nem me olhar no espelho”. Esse é o depoimento da assistente social Lucilia Rosa, que foi diagnosticada com câncer de mama em estágio II e teve que passar pela mastectomia (retirada da mama) pelo fato do tumor ter ocupado 50% do seio.

Assim como ela, estima-se que 70% das mais de 59 mil mulheres acometidas pelo câncer de mama precisam passar pela mastectomia. O processo abalou a autoestima de Lucilia. “Tive medo durante todo o tratamento. A gente cria uma sensação de impotência diante da situação. Não sabia se conseguiria aguentar o sofrimento e, após a cirurgia, não consegui ficar à vontade na frente do meu marido”.

Foi preciso terapia para que ela conseguisse se reinventar. “Meu emocional entrou numa gangorra, uma hora estava bem, depois não estava mais. Minha autoestima melhorou muito após o processo de reconstrução. Voltei a sentir segurança e a ter o controle da minha vida. Hoje, digo que tudo é questão de paciência. O câncer é uma fase ruim. O segredo é não desistir de si mesma”.

A mastologista e diretora da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas, Bárbara Pace, explica que a mastectomia vai depender do tipo de câncer. “Antes, todas as mulheres acometidas pela doença eram submetidas a retirada total da glândula mamária. Mas, com o avanço da medicina, eventualmente, os cânceres menos agressivos passaram a ser tratados com cirurgias conservadoras”.

Nesse caso, retira-se o tumor com uma margem de segurança. “A cura é semelhante. O que difere quem vai passar por um procedimento mais agressivo e quem vai passar por uma cirurgia conservadora é o tamanho do tumor e o tanto que ele compromete a pele”.

O diagnóstico precoce, foco da campanha Outubro Rosa que promove a prevenção ao câncer de mama e a importância da descoberta rápida, pode evitar a retirada. “O tamanho da lesão é um divisor de águas no tratamento. As pacientes que descobriram a patologia no começo vão, em sua maioria, para a cirurgia conservadora. E aí vem a importância da campanha, que enfatiza a relevância do acesso a esse diagnóstico, principalmente a mamografia”.

Autoestima

Bárbara observa o impacto negativo que a doença tem no emocional da mulher. “A mama está muito ligada à autoestima, feminilidade e sexualidade feminina. Quando a paciente tem que fazer uma cirurgia mais agressiva e mutiladora, é difícil reparar dano psicológico que isso traz”.

A nutricionista Maria Elisa Oliveira recorda que receber a notícia de que teria que passar pela mastectomia foi chocante. “Descobrir o câncer foi um grande susto: tumor maligno, invasivo com cerca de 4 cm. O médico me disse sem muito rodeio que teria que fazer a retirada total da mama esquerda. Eu congelei e, depois da cirurgia, chorei muito”.

Mas mesmo com o impacto, ela decidiu não reconstruir a mama. “Percebi que o que importa é como sou por dentro. Tive acompanhamento de uma psicóloga que me ajudou, porém meus medos não eram em relação à autoestima ou como reagir aos olhares de pena das pessoas, mas sim sobre a minha vida e a morte”.

Maria diz ainda que a beleza vem de dentro. “Nesse momento delicado, precisamos buscar a força interior que existe em nós. E perceber a melhor maneira de passar por isso, seja reconstruindo, ou não, a mama”.

A reconstrução

O cirurgião plástico Raiff Araújo esclarece como funciona o procedimento. “Em fase inicial, é possível a reconstrução da mama. Quando o tumor é avançado, é necessário fazer radio ou quimioterapia antes. Mas, em alguns casos, não é possível fazer a reconstrução total. Contudo, existe algumas parciais onde a estrutura anatômica da mama é refeita de forma a afetar menos a autoestima da mulher”.

A paciente é acompanhada por uma cirurgia multidisciplinar. “É preciso um acompanhamento psicológico, porque a radio, quimio e hormonioterapia que, em muitos casos, são usadas para o tratamento podem trazer mudanças no corpo. Além disso, ela é assistida pelo cirurgião plástico e mastologista”.

A mulher precisa estar curada para que faça a reconstrução. “Se, eventualmente, existir dúvidas, o procedimento pode ser feito após a melhora clínica da paciente e o resultado da análise patológica. Atualmente, existem diversos materiais que podem ser usados para o procedimento, a exemplo, o silicone”.

Ele acrescenta que, em alguns casos, são usados fragmentos de tecidos da própria mulher. “É comum a realização com enxertos de gordura, retalhos locais ou a distância que não obriguem, necessariamente, o uso de um implante artificial”, conclui.