Desde que os grandes estúdios de cinema divulgaram os remakes de clássicos como “O Rei Leão” e “Dumbo” surgiram, nas redes sociais, comentários de adultos, crianças na época da primeira exibição, dizendo que não gostariam de compartilhar a sessão com os pequenos, pois não suportariam a bagunça na hora de assistir aos filmes.
O tema dividiu opiniões: têm aqueles que não querem as crianças no cinema, outros que defendem que os pais precisam assegurar que seus filhos não atrapalhem a sessão, e de espectadores a favor da presença dos pequenos nas salas, porque eles também são parte da sociedade.
A coordenadora do curso de pedagogia do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte, Fernanda Rohlfs, diz que cabe aos adultos a consciência de que esses filmes atendem a diferentes públicos. “Temos que estar dispostos e entender que é normal da criança se levantar, falar, gesticular”.
Ela acrescenta que pode haver uma combinação entre os responsáveis e a criança, mas sem proibições. “Não é bacana uma criança adestrada, que é obrigada a ficar sentada e calada. Os pais podem conversar com elas sobre o ambiente, mas os adultos precisamos entender que pode acontecer ruídos, o que é natural”.
A advogada Lídia Vieira tenta uma “moeda de troca” com as filhas Lara, de 6 anos, e Beatriz de 10. “Sempre negocio algo após a sessão, mas não as policio o tempo inteiro, entendo que, se é uma sessão majoritariamente infantil, as outras pessoas que estão ali vão compreender”.
Ela acrescenta que, geralmente, o momento passa a ser mais descontraído. “Elas sentam na escada, levantam das cadeiras, conversam entre si, pedem pra sair, etc. Não é algo que incomoda, porque não tira a concentração do filme. Claro que se uma delas gritar ou atrapalhar muito, chamo a atenção, mas a agitação acho normal”.
Lídia recorda quando foi a uma sessão noturna com sua filha mais velha. “Beatriz tinha 8 anos e fomos assistir “A Bela e a Fera” às 19h. Tinha mais adultos do que crianças, mas o filme, apesar de ser um remake, é sobre uma história infantil. Durante a sessão, ela fez algumas perguntas inocentes, porque não tinha entendido a fala ou a cena e uma pessoa que estava atrás de nós começou a reclamar e disse que achava um absurdo ter crianças na sessão”.
“A situação foi constrangedora e Beatriz ficou muito sem graça. Fiquei nervosa, mas continuei com ela na sala e respondi a todos os questionamentos, claro que num tom baixo para não atrapalhar. Evito sessões noturnas e que tenham menos crianças para não passarmos por isso de novo”, adiciona.
Benefícios
Fernanda explica que o cinema vai garantir três perspectivas para as crianças: qualidade, variedade e desafio. “Ou seja, trazer coisas que ampliem o seu repertório cultural. É preciso buscar essas alternativas para fugir das ideias estereotipadas que existe nesse setor”.
Ela acrescenta que, a partir dos 3 anos, a criança já possui maturidade para fazer associação do momento. “Antes disso, ela está numa fase sensorial e de experiências concretas, por isso não tem noção do que o cinema exige, mas depois desse período há uma série de benefícios”.
A pedagoga informa que o primeiro é a interação social, quanto mais a gente amplia os círculos de interações, mais a criança se desenvolve. “Outro ponto é o cultural, uma vez que o cinema mostra muitos temas representativos”.
Há também a questão socioafetiva. “A gente não pode querer que o cinema traga apenas coisas belas. Além do senso estético que também é apurado quando ela tem acesso a um filme de boa qualidade”.
Estereótipos
Fernanda elucida a importância de se observar os estereótipos que ainda existem na indústria. “É preciso refletir que tudo o que a criança é exposta fará parte da constituição de personalidade dela. No cinema, ela é apresentada a modelos de comportamentos e começa a se adequar. Ela entende a função da mulher, do homem e introjeta esses modelos em seu modo de enxergar o mundo”.
Por isso, a palavra de ordem é responsabilidade. “Os pais devem se ater ao que estão expondo os filhos e buscar histórias sadias que vão agregar valores reais, mesmo porque tudo o que ela absorver agora, vai buscar no futuro”, conclui.