A crise econômica provocada pelo novo coronavírus trouxe sérias consequênicas à educação. Prova disso é um levantamento feito pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp) que mostra que mais de 850 mil alunos deixaram de cursar o ensino superior da rede privada este ano. A redução representa 13,2% das matrículas das universidades pagas do país.
De acordo com o estudo, o impacto causado pela crise sanitária já pôde ser sentido logo no primeiro semestre, quando 608 mil alunos trancaram a matrícula na universidade. Este número representa 83 mil pessoas a mais que o mesmo período do ano passado.
O professor e estudioso em neurociência da educação, Sandro Caldeira, explica que a pandemia trouxe diversos fatores que contribuem para o alto índice de evasão. “Além do crescimento do número de desempregados e redução de renda dos trabalhadores, tem também a incerteza sobre o retorno das aulas presenciais. Existe hoje uma falta de perspectiva positiva de normalização do cenário mundial,somada ao isolamento social, com sérias repercussões no estado psicológico das pessoas”.
O especialista acredita que a COVID-19 acarretou uma realidade diferente ao ensino. Segundo ele, houve uma necessidade de reformulação das aulas, onde os cursos de graduação precisaram se adaptar e se reinventar, passando a buscar meios de tornar o ensino mais atrativo, mesmo que on-line. “É importante salientar que em um cenário pós-pandemia, provavelmente, os cursos adotarão um modelo híbrido, com um misto de aulas expositivas de forma remota com as presenciais em grupo”.
A pandemia acabou por mudar a forma de ensino remoto que era comum no país. “No ensino presencial o aluno pode interagir com outros estudantes e com o professor, trocar experiências, o que no ensino on-line tradicional não era comum acontecer. Entretanto, com a COVID, houve necessidade de uma reformulação nessa metodologia de ensino à distância, trazendo aulas mais dinâmicas, ao vivo, viabilizando a participação dos alunos com interação entre eles e o professor, o que as tornam mais atrativas”.
Mas, essas adequações não foram suficientes para que a estudante de nutrição Carla Portela se adaptasse. No final do primeiro semestre, ela decidiu não renovar a matrícula. “Como tudo estourou em março e eu já havia começado as aulas, decidi continuar, mas achei muito difícil e diferente do que estava habituada”, explica. Para ela, o medo e incerteza da pandemia contribuíram em sua falta de atenção e até mesmo dificuldade de aprendizado. “Senti que não estava absorvendo nada. E não acho que isso seja justo comigo mesma e com a profissional que quero ser quando me formar, por isso tranquei a matrícula”.
A estudante, porém, afirma que estudar nutrição sempre foi seu sonho. “Hoje, no quarto período, tenho ainda mais certeza disso. Mas decidi não me cobrar e nem ficar chateada por essa pausa. Sei que é melhor para mim e assim que as aulas voltarem presencialmente, estarei lá”.
Futuro
Caldeira explica que a evasão universitária é um fenômeno com grande carga nociva e com desdobramentos que vão além do campus e da vida acadêmica. “Para cada aluno que abandona seus estudos, temos uma perda substancial de potencial intelectual, financeiro e social, com grande repercussão no futuro do país”.
Ele observa que a diminuição do número de alunos que deixam a faculdade se daria através da atenção a algumas questões. “É preciso realizar mapeamento dos pontos fracos; reavaliar a metodologia e a proposta pedagógica, empregar a tecnologia como trampolim para o aprendizado, por meio de técnicas que permitam a interação e não o distanciamento entre os alunos e professores, com real capacitação do corpo docente, redução de mensalidades, entre outros”.
Para que os alunos reflitam quando a vontade de desistir bater, o especialista deixa uma mensagem. “Por mais difícil que esteja agora, é nesse momento que o estudante precisa pensar no presente como preparação para seu futuro profissional. A capacitação é a arma dos vencedores”, conclui.