Amarelos ou verdes, em uso ou parados, sozinhos ou enfileirados aos montes. Desde do início do ano, os patinetes elétricos podem estar em qualquer canto da área central de Belo Horizonte – especificamente, nos bairros Santo Agostinho, Lourdes, Boa Viagem, Funcionários, Savassi e Centro. Esse meio de transporte é uma tendência mundial vista como uma opção mais prática de deslocamento pela cidade e também ecologicamente correta, por ser menos poluente do que o carro ou uma moto, por exemplo. Na prática, entretanto, os usuários de patinetes precisam desbravar por espaços alternando os caminhos entre calçadas, ruas e avenidas.
Os sites da Yellow e da Grin, empresas de compartilhamento de bicicletas e patinetes elétricos que atuam na cidade – que, inclusive, se fundiram para formar a “Grow”-, informam que o uso dos patinetes deve ser feito em ciclovias e ciclofaixas a 20km/h, e calçadas “somente se precisar”, a 6km/h. Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), não há normas específicas para esse tipo de transporte, os veículos cicloelétricos são equiparados aos ciclomotores e exigem o uso obrigatório de capacete de ciclista, sendo permitida a circulação somente em calçadas, ciclovias e ciclofaixas.
O assistente de recursos humanos Eduardo Souza aluga um patinete para percorrer o caminho do Centro até seu trabalho na Savassi. “Utilizo mais nas ciclovias. Quando não tem, uso na calçada respeitando o limite de velocidade, caso ela seja muito estreita, vou para a rua”, conta. Quanto ao respeito no trânsito, isso varia. “Muitos pedestres arredam para o lado, já motoristas, nem todos respeitam. Acham que o patinete é um brinquedo e não um meio de transporte”.
Para o mestre em transporte público pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ivan Araújo, é cedo para mensurar o impacto dos patinetes na fluidez do trânsito. “Eles são aconselháveis para os chamados last mile (referência ao último trecho de um percurso), portanto, não interferem tanto assim no tráfego. Passam a ser um problema quando estão em grande quantidade e começam a dividir o espaço com os carros na pista”, avalia. Questionadas, Grin e Yellow informaram que não divulgam dados de quantos patinetes são disponibilizados na capital por questões estratégicas.
Desde que o serviço começou a ser disponibilizado, Igor Oliveira, analista de sistema, utiliza o meio de transporte para ir da Praça Sete ao Lourdes, onde trabalha. “O maior risco é trafegar nas avenidas, por causa dos canteiros não tem como atravessar ou subir, e você fica parado na rua, o que é perigoso”. Para ele, a falta de ciclovia pode ser sentida até no bolso. “É preciso ter habilidade para desviar das pessoas. Alguns andam devagar e você não pode acelerar, o que aumenta o tempo de deslocamento e se gasta mais dinheiro”. Em média, o analista paga R$ 6 para realizar o percurso.
Para Araújo, é preciso focar na melhoria da infraestrutura cicloviária e na manutenção e dimensões das calçadas da capital. “A todo momento surgem novas formas de se locomover por grandes centros urbanos que não foram previstas pela legislação, podemos citar o caso dos aplicativos de motoristas. Com a popularização dos patinetes, poderá ser necessário criar alguma nova regra para o convívio pacífico entre usuários motorizados e não motorizados”, afirma.
Segundo a BHTrans, o município está pleiteando recursos externos para implantação de novos projetos viários, dentre os quais estão previstos novas ciclovias. Atualmente são 89,93 km de ciclovias implantadas. Uma das ações previstas é a reestruturação de 7km na orla da Lagoa da Pampulha e a construção de 500 metros de nova malha, que ligará a orla à Estação de Integração Pampulha. Até então, as empresas de compartilhamento de patinetes elétricos não atuam na região contemplada.