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Em Minas, dengue já acometeu quase 100 mil pessoas este ano

Os casos de dengue têm aumentado consideravelmente no estado, deixando toda a população em alerta. Dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) apontam que, até o dia 8 de abril, foram registrados 99.599 prováveis casos (confirmados e suspeitos).

Ao todo, 12 pessoas morreram por causa da doença, sendo uma em Arcos, seis em Betim, uma em Paracatu, duas em Uberlândia e duas em Unaí. Ainda existem 33 óbitos sendo investigados. A SES ressalta que as mortes foram ao longo de 2019 e não, necessariamente, recentes.

A coordenadora do Programa Estadual de Controle das Doenças Transmitidas pelo Aedes SES-MG, Márcia Ooteman, explica que o estado já viveu três grandes epidemias da doença, em 2010, 2013 e 2016, e que 2019 segue a tendência desses anos, porém com menor intensidade. “No entanto, o número de ocorrências ultrapassou o de casos registrados em anos não epidêmicos”.

Ela adiciona que 80% dos focos do Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença, estão nas residências. “O período de chuvas e calor é o cenário ideal para sua proliferação. Por isso, cada cidadão deve contribuir para que o ambiente doméstico esteja livre deles. É fundamental que a população tenha essa consciência e tome atitudes simples, mas que ajudam a minimizar os criadouros”.

A coordenadora exemplifica o que pode ser feito para isso: “Manter caixas d’água vedadas, guardar pneus e garrafas em locais cobertos, manter ralos limpos e fechados e descartar adequadamente o lixo. Além disso, o cuidado com as calhas, evitando que folhas e sujeiras se acumulem, também auxilia. Os pratinhos de plantas precisam ser eliminados e os bebedouros de animais devem ser limpos diariamente. Também é recomendável limpar piscinas e fontes de água, bandejas de geladeira e ar condicionado”.

Márcia acrescenta que o plano estadual de contingência das doenças transmitidas pelo Aedes está ativo e que os indicadores estão sendo monitorados desde outubro do ano passado. “O estado fornece, de forma complementar, medicamentos para tratamento dos pacientes com dengue em municípios em epidemia. Envia equipes para realização de intensificação das ações de campo em conjunto as locais, realiza capacitações para médicos e enfermeiros sobre manejo clínico dos pacientes com arboviroses e disponibiliza inseticidas e equipamentos para aplicação dos mesmos”.

Além disso, é realizado um monitoramento dos indicadores municipais do Programa de Monitoramento das Ações de Vigilância em Saúde do Estado de Minas Gerais (PROMAVS). “Um deles trata sobre a obrigatoriedade de cadastro dos agentes de combate a endemias no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde. Isso gera continuidade nas ações de prevenção e controle de arboviroses”.

Fora as ocorrências de dengue, Minas Gerais registrou também 1.077 casos prováveis de febre chikungunya e 381 de zika, até o momento não foram registradas mortes por essas duas doenças. Segundo o infectologista Guilherme Lima, as três doenças são diferentes, mas causam manifestações semelhantes. “O próprio vírus tem semelhança entre si. A gente não consegue diferenciá-las pelos sintomas, o diagnóstico vem por meio de exames”.

Em relação a dengue, ele esclarece que se trata de uma doença que requer cuidado. “Todas as pessoas infectadas correm riscos. Ela possui quatro sorotipos, ou seja, o mesmo vírus pode trazer quatro formas da patologia e todas podem ser graves”.

Há quem diga que, quando infectado uma vez, a segunda pode ser mais grave. Porém, o infectologista elucida que isso é relativo. “Isso acontece porque, na primeira infecção, o organismo cria anticorpos que são temporariamente efetivos para todos os sorotipos, mas com o passar do tempo, eles falham e, quando infectado novamente, a entrada do vírus fica mais fácil, o que propicia uma manifestação mais grave. Mas não é uma verdade absoluta”.

Ele acrescenta que, se a pessoa já está com a doença, o ideal é seguir o tratamento. “A primeira coisa é tentar o diagnóstico rápido e precoce. A recuperação envolve, principalmente, a hidratação, porque a dengue desidrata e é preciso repor o líquido. Alguns pacientes, inclusive, necessitam dessa reposição intravenosa”.

As “receitinhas da avó” não anulam a ida ao médico. “O suco de inhame é popular para esse tratamento. Pode ser que não faça mal, pois são alimentos presentes no nosso dia a dia, mas o ideal é buscar um médico”.

O especialista finaliza com um alerta. “As pessoas devem evitar o automedicamento, pois, algumas substâncias não são indicadas para tratar a doença”, conclui.

Susto

A enfermeira Jéssica Pires foi acometida pela dengue. Essa é a segunda vez que ela é infectada pelo vírus. “Comecei a sentir os sintomas e logo soube que estava doente de novo. Fui ao médico e o diagnóstico se confirmou, segui tudo à risca, me hidratei, fiz repouso, mas não adiantou, eu só piorava”.

Ela conta que sentiu fortes dores de cabeça e, por fim, não conseguia mais se alimentar. “Voltei ao hospital e soube que meu quadro havia evoluído para uma dengue hemorrágica. Minhas plaquetas baixaram e precisei de transfusão de sangue. Foram dias horríveis que não desejo para ninguém”.

Jessica, que está curada, disse que reforçou os cuidados. “Troquei as telas da janela, comprei repelente e fiz uma faxina reforçada em casa. Minha residência não é um foco do Aedes e espero que todos se conscientizem e façam o mesmo, pois o combate é um trabalho de formiguinha”, finaliza.