Tenho notado, neste início de ano, que jornais e revistas, mesmo aqueles especializados na área econômica, não vêm dedicando muito espaço ao tema. As matérias que tratam de novos investimentos, projeções de crescimento e desenvolvimento de mercados desapareceram ou vêm se limitando ao cenário internacional. Ou, ainda, ao debate de tendências, numa linha meio acadêmica, com análises macroeconômicas de interesse relativamente restrito. Isto, diga-se, ao contrário do que ocorria ao final do ano passado, logo depois das eleições, quando as páginas de economia e negócios estavam repletas de entrevistas de dirigentes empresariais anunciando investimentos bilionários para este ano. Hoje, o que há é um profundo silêncio no ambiente corporativo, traduzo como cautela.
Basta uma rápida pesquisa pela internet para se constatar esses fatos. Em novembro, por exemplo, logo após o segundo turno das eleições, diversos veículos de comunicação reportavam o resultado de uma pesquisa da Deloitte, uma agência internacional de auditoria e consultoria empresarial. O estudo mostrou que 97% de um total de 826 empresas ouvidas pretendiam investir no Brasil em 2019. Todas elas, empreendimentos de grande porte que, em conjunto, faturaram R$ 2,8 trilhões em 2018. Outra matéria relatava que ao menos 30 grandes empreendimentos pretendiam abrir seu capital na Bolsa, como forma de capitalização, dada a expectativa pró-reformas estruturais e retomada do crescimento econômico.
Essa mudança de clima, da pura euforia para a estudada cautela, tem sua razão de ser, mas não significa que os planos de investimentos e crescimento foram por água abaixo. Significa, tão somente, que eles foram proclamados no momento errado, quando os arroubos de otimismo pós-eleitoral diante da expectativa de mudanças rápidas, especialmente na condução da economia, deram lugar a um saudável comedimento.
E, convenhamos, não será fácil para o governo federal (e nem para as administrações estaduais) debelar a imensa crise que, desde 2014, vem ceifando postos de trabalho – hoje, mais de 12 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) jogando balanços contábeis para o vermelho e restringindo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a pouco mais de 1% em 2018.
Esse conjunto de maus resultados, no entanto, não é recente. Eles provêm de vários fatores adversos que foram se acumulando ao longo dos últimos anos, alguns por influência de fatores externos, como a crise internacional de 2008 que, por aqui, quase passou em branco naquele ano (quem se lembra da “marolinha” de Lula (PT)?) mas, 2 anos depois, começou a se manifestar no Brasil e se agravou, graças à irresponsabilidade fiscal dos últimos dois anos de Lula e das gestões desastradas de Dilma Rousseff (PT).
Hoje, parece, tais desmandos ficaram para trás e, embora as projeções de resultados econômicos ainda estejam muito aquém do desejável, há perspectivas de retomada do crescimento – desde que, convém reiterar – as reformas projetadas pelo governo federal saiam realmente do papel, de maneira muito especial a da Previdência Social que, somente no ano passado teve um déficit de mais de R$ 190 bilhões.
Apesar do alto índice de renovação verificado no Congresso Nacional – de 61% no Senado Federal e de quase 50% na Câmara, onde, aliás, o PSL, partido do Governo tem a segunda maior bancada – são esperadas muitas reações às mudanças que o Ministério da Economia vai propor para a Previdência. Não será fácil convencer parlamentares, de todos os partidos políticos, de que a reforma é não só uma questão de sobrevivência da nossa economia mas, também, um fator condicionante para o sucesso de todas as demais mudanças necessárias: nas leis trabalhistas e tributárias, na política, na privatização de estatais e na administração pública.
São mudanças necessárias, mas duras, que afetarão hábitos já arraigados, privilégios e a própria maneira de ser dos brasileiros. Em muitos casos, vai doer. Mas…
*Engenheiro, vice-presidente da Federaminas, presidente do Conselho do Instituto Sustentar e presidente da Federação de Conventions&Visitors Bureau de Minas Gerais