Agosto começou com uma notícia alarmante: no dia 1°, a humanidade consumiu todo o orçamento do meio ambiente para 2018. Em uma analogia, é como se estivéssemos operando no vermelho.
O fenômeno tem acontecido cada vez mais cedo. O “Dia da Sobrecarga da Terra” em 1975 acontecia em 28 de novembro, por exemplo. Em 2016, foi em 8 de agosto e o ano passado foi no dia 02. A conta é do Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa que mede a pegada ecológica das atividades humanas no mundo. Os estudos apontam que, até o fim de 2018, teremos consumido 1,7 planeta terra. Um apetite que, para os especialistas, é insustentável em longo prazo.
Estamos consumindo tanto que a terra não consegue mais se regenerar em tempo hábil. O Edição do Brasil conversou com a especialista em mudanças climáticas do Greenpeace Fabiana Alves, que explicou as consequências disso para o futuro do planeta.
O que é o Dia da Sobrecarga da Terra?
Marca o momento em que, naquele ano, o mundo consumiu todos os recursos renováveis. É como se estivéssemos entrado em cheque especial com o planeta. Essa conta é feita anualmente e a gente tem observado que acontece cada vez mais cedo.
Chegar cada vez mais cedo a esse dia significa exatamente o quê?
O modelo de desenvolvimento econômico que utilizamos no nosso planeta é errado e afeta o direito das pessoas. A gente não pode descolar o direito da população em relação ao meio ambiente. O fato de estarmos consumindo cada vez mais os recursos renováveis do planeta e exaurindo ele anualmente – cada vez mais cedo, significa que existe uma questão urgente de consumo desenfreado dos nossos recursos e que isso é feito com total falta de sustentabilidade.
De onde vem esse consumo?
Economicamente, o mundo é voltado para oferta demasiada. Isso gera uma grande demanda. Desde a alta ingestão de carne, plásticos, comida – que também é desperdiçada além do mau consumo da água. Esse é um grande exemplo do Brasil, já enfrentamos grandes secas. É um olhar de consumo das pessoas, mas também de oferta das empresas, até mesmo do setor da agropecuária.
Quais podem ser as consequências do consumo desenfreado dos recursos naturais da Terra?
Primeiro, ele vai afetar diretamente as pessoas. As queimadas, por exemplo, que emitem gás carbônico afetam o mundo inteiro e também os habitantes das regiões de florestas. Além disso, pode acarretar a quebra de safra, temperaturas muito altas ou baixas, fazendo com que o clima mude de maneira drástica. Consequências na saúde com o desenvolvimento de mosquitos que podem causar doenças em toda a população etc. É um desequilíbrio total.
Na sua opinião, o que poderia ser feito para ajudar o planeta?
Nós precisamos acabar com o desmatamento no país. Olhar para a energia renovável, parar de consumi-la de combustíveis fósseis, ter um planejamento de governo olhando para renováveis e não mais para energias descartáveis. Além disso, no Brasil, é importantíssimo acabar com o desmatamento em todas as suas formas, que é algo que afeta diretamente as pessoas que habitam os locais e o mundo todo.
Já existem medidas sendo tomadas?
As políticas públicas são muito fracas. Existe, por exemplo, o Acordo de Paris que é histórico, onde os países se comprometem em diminuir suas emissões. Mas, no Brasil existe uma dificuldade em saber o que é desmatamento legal e ilegal. Essas questões precisam ser fortalecidas por órgãos de combate ao desmatamento, ter melhor financiamento por parte do governo e de um olhar mais holístico. Falta de água e a quebra de safra estão correlacionadas, então é necessário integrar esses ministérios para conseguir chegar aos objetivos propostos nas promessas internacionais.
O que falta para que a população se conscientize?
A população vota. Esse é um poder que ela tem dentro da democracia. Eu acredito que é o momento de pensar bem em que candidato reflete a conscientização do consumo de maneira sustentável. Além disso, é necessário cobrar políticas não destrutivas ao planeta. Chegou o momento de uma conscientização no que diz respeito ao consumo e também na maneira de votar e ver quem você coloca no poder.