Sabe aquela premissa de que o brasileiro é um povo receptivo e solidário? Ela está errada. Se colocar no lugar do outro não é algo comum na vida de muitas pessoas. Uma pesquisa da Universidade de Michigan – EUA – com mais de 104 mil indivíduos de diversas partes do mundo mostra que o Brasil ocupa a 51° posição no ranking de países empáticos. O questionário contava com perguntas que tentavam medir a compaixão e a tendência dos voluntários ao imaginar o ponto de vista de outros em situações hipotéticas.
A psicóloga educacional Michelle Rocha explica que a empatia é uma característica que, além de ser nata, também pode ser desenvolvida. “A pessoa já nasce com ela e, dependendo do ambiente no qual foi formada, pode ser destacada ou enfraquecida com o tempo. Além disso, ela pode ser ensinada e podemos ver isso nas crianças quando as estimulamos a pensar. Existem vários exercícios e filmes que podem auxiliar no processo de nós tornamos seres mais empáticos”.
Para a Michelle, é importante entender a situação do outro. “A partir disso conseguimos estabelecer relações mais humanas. O comportamento frente as pessoas será diferente na medida em que se começa a enxergar o mundo como o outro. E como consequência, não há julgamento, se reduz a possibilidade de atitudes violentas, estimula-se relações mais saudáveis e pautadas no respeito”.
Via de mão dupla
Nas redes sociais, por exemplo, a sensação de anonimato e de “terra sem lei”, faz com que muitos percam a razão e os limites, se mostrando como indivíduos totalmente sem empatia. Tom Postmes, professor das universidades de Exeter (Inglaterra) e Groningen (Holanda) analisa o comportamento online das pessoas há 20 anos. Segundo a pesquisa, além dos haters (pessoas que disseminam ódio gratuito online) ele percebeu que o trolls (nova terminologia para grupos da internet que tem o mesmo comportamento) está cada vez mais bem definido e mostra que eles querem promover emoções antipáticas de nojo e indignação a todo momento.
Michelle diz que a tecnologia tem afetado as relações humanas, principalmente na comunicação. “Mesmo que ela facilite em alguns aspectos, há redução da possibilidade de fazer uma leitura da pessoa como um todo, pois a expressão corporal também faz parte do processo comunicativo. Com a tecnologia como intermediária, acabamos perdendo algumas sutilezas da comunicação, tal como percepção do que o outro está sentindo quando diz algo etc. Isso acaba empobrecendo os vínculos, pois se uma discussão começa, basta desligar. Assim não há solução de problemas”.
Inserção na educação
Para que a empatia continue fazendo parte da natureza humana é preciso fazer mudanças em casa e na educação. Segundo a psicóloga, não há como prever se as futuras gerações serão afetadas por essa falta de empatia, mas conta que há várias iniciativas sendo realizadas. “A partir do momento que entendemos que há deficiência nessa área, escolas já trabalham a educação emocional”.
Um exemplo é a Secretaria de Educação de São Paulo que, neste ano, irá inserir no currículo escolar as habilidades socioemocionais com ênfase em empatia e criatividade. No entanto, não haverá uma aula dedicada somente ao tema – o aprendizado deverá ser inserido durante as aulas das outras disciplinas.
[box title=”O que é educação emocional?” bg_color=”#f7f7f7″ align=”center”]Basicamente é falar das emoções e como elas afetam o nosso corpo. “Identificar pensamentos que podem levar as pessoas a se sentir de determinada forma e mostrar o valor de cada emoção. Há a tendência de encarar a tristeza e a raiva como pensamentos negativos, mas é errado. Cada um tem a sua importância e demonstra o limite para que um comportamento seja interrompido”, conta a psicóloga. Além disso, Michele diz que podem ser realizadas atividades e dinâmicas para que as crianças possam se expressar melhor. “Existe uma linha da psicologia que trata da comunicação não violenta, que é resolver os problemas a partir da minha percepção ajudando o outro a ser empático”. Por fim, a educação socioemocional acaba servindo com uma ferramenta contra o bullying. “Tem um estudo europeu que afirma que para combatê-lo não é necessário falar sobre ele, e sim estabelecer relações mais positivas naquele grupo”.[/box]
Arte e reflexão
O filme Extraordinário, lançado em dezembro e ainda está em cartaz em alguns cinemas no país, tem emocionado os brasileiros. Na página oficial do longa, os comentários são positivos e incentivam quem não viu a ver e, até mesmo, ler o livro que é mais detalhado que o filme.
Opiniões sobre o filme
“Vale a pena assistir. RECOMENDO. Um filme emocionante e com uma lição de vida que faz jus ao título. Nos ensina como é importante ter empatia pelo outro e mais ainda sobre amizades verdadeiras. ”
“Maravilhoso… Entre estar certo ou ser gentil, escolha ser gentil… Extraordinário melhor filme do momento”.
“Me emocionei ao ler o livro. Excelente. Gentileza, amor, compreensão, amizade, escolhas… isso que precisamos para viver melhor uns com os outros”.
“Sem palavras, assisti e me emocionei muito. Gentileza gera gentileza…. Conheço bem o que é viver com algum problema na pele. Amei o filme”.