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Cresce em 3% número de casos de Aids no país

Segundo relatório da UNAids, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no dia 20, o número de casos de Aids no Brasil cresceu 3% no período entre 2010 e 2016. Os dados estão na contramão mundial, uma vez que a taxa global apresentou queda de 11% nos diagnósticos de HIV. Hoje, 830 mil brasileiros vivem com o vírus e 60% deles têm acesso ao tratamento que é disponibilizado pelo SUS.

De acordo com o infectologista e diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, existem diversos motivos para o aumento no número de casos. “Os índices sobem, principalmente, na população mais jovem. Faltam programas de educação a fim de informar esse nicho e sensibilização de um modo geral”.

A assistente social Heliana Moura, vive com o HIV há 21 anos. Ela também acredita que falta informação acerca da doença. “É preciso pensar em outras formas de trabalhar a prevenção. As pessoas, sobretudo, os jovens, não dão mais atenção à frase ‘use camisinha’. Eles estão começando a vida sexual mais cedo e sem prevenção. É preciso trabalhar o viés da responsabilidade, fazê-los entender que existe a escolha – se prevenir ou não -, mas, que ela gera consequências”.

Ela conta que ainda há um preconceito muito grande em torno da patologia. “Muita coisa mudou nesses 21 anos em que vivo com o vírus, menos o impacto de descobrir a doença. As pessoas ainda têm medo de receber o diagnóstico. Quando recebi o meu, fui a uma clínica particular e levei o resultado para abrir em casa. Quando descobri que era soropositivo, não tive ninguém para me aconselhar, parecia ter recebido uma sentença de morte”, relembra.

A assistente social afirma que, hoje, trabalha no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e faz a entrega dos resultados de diagnósticos do HIV. “Atualmente, existe uma acolhida a essas pessoas, a Secretaria de Saúde conseguiu ampliar esse treinamento para todos os centros de saúde. Quando alguém recebe o resultado de exame, o levamos para uma sala e conversamos sobre o seu quadro. Tudo para informá-lo da maneira correta, isso é importante e necessário”.

Filhos livres do HIV
Segundo dados da Sociedade Americana de Reprodução Humana, cerca de 86% dos pacientes com HIV estão na faixa etária de 15 a 44 anos, sendo que 30% deles querem filhos. De acordo com o Ministério da Saúde, desde 2006 até junho de 2016, foram notificadas 99.804 gestantes infectadas pelo HIV no Brasil.

O especialista em reprodução e diretor da Clínica Vilara, Sandro Sabino, explica que há métodos para assegurar que a criança não seja infectada. “Quando o homem é soropositivo, o ideal é que se faça uma fertilização in vitro. O sêmen é preparado, lavado e a amostra congelada. Após isso, é realizado um estudo para ver se o material está livre do vírus, se estiver, então é feita a fertilização”. Agora, caso a mulher possua o HIV, o procedimento é maior, uma vez que é preciso ter cuidado antes, durante e depois da gestação. “Antes dela engravidar, é preciso saber como está a sua carga viral. Durante o pré-natal, há medicações que ela terá que tomar, inclusive, após o parto. O bebê também é medicado ao nascer”, acrescenta.

Foi o que aconteceu com Heliana. Ela tem dois filhos e um deles nasceu após o HIV. “Com a medicina avançada, é possível ter um bebê sem infectá-lo. Após o parto, ele tomou um xarope que ajudou na proteção e eu não pude amamentá-lo, pois podia contaminá-lo pelo leite. Mas, foi um processo muito tranquilo e deu tudo certo”.

O que é a Aids?
Segundo o especialista, a Aids é uma infecção viral que compromete o sistema imunológico e que pode ser transmitida por via sexual, por meio da relação desprotegida; vertical, de mãe para filho; e por acidentes ocupacionais.

Ele acrescenta que, na maioria dos casos, o vírus se manifesta no indivíduo. “São raríssimos os episódios em que a pessoa resiste ao HIV. Pode acontecer dela não se infectar, mas é uma absoluta exceção, assim como ter o vírus e ele ficar ‘adormecido’ no organismo. A doença quase sempre vai se desenvolver. Geralmente, depois de 2 a 3 anos da contaminação”.

Tratamento
A Aids ainda não possui cura, mas o tratamento disponibilizado pelo SUS é, de acordo com Starling, referência mundial. “Fomos os primeiros a disponibilizar a medicação por via pública e para todos os infectados. E esse programa se moderniza cada vez mais. Trata-se de um conjunto de três a quatro drogas. Contudo, há pessoas que fazem uso inadequado dos remédios e isso pode fazer com que o vírus evolua para uma forma mais resistente. Mas, de um modo geral, eles são eficazes”, conclui.