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Região quilombola em Paracatu desenvolve projeto turístico cultural

Localidade tem mais de 200 anos e conta com diversos atrativos – Foto: Divulgação

Povoado constituído há mais de 200 anos, a comunidade quilombola de São Domingos, em Paracatu, região Noroeste de Minas, foi escolhida para desenvolver um projeto turístico de base comunitária. O objetivo é criar um roteiro de experiências que valorize a história, a cultura e os saberes desses moradores, juntamente com a capacitação da população local.

Essa é uma ação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas) e é a primeira iniciativa da instituição voltada para esse grupo étnico em todo o Estado. O programa foi iniciado no segundo semestre de 2023, e já promoveu encontros para sensibilização da comunidade e mobilização dos parceiros, identificando experiências e promovendo a formação de um coletivo responsável por conduzir as ações.

A analista do Sebrae Minas, Patrícia Rezende, explica que a instituição trabalha com turismo, iniciativas de economia criativa e cultura, desde o ano de 2014, na cidade de Paracatu. “Para o desenvolvimento dessas ações foi feito um planejamento estratégico. Nele, já se previa, enquanto fortalezas, ter produtos que fossem dentro da comunidade quilombola”.

“Foi contratada uma consultoria, que construiu um planejamento estratégico para ativação do destino turístico, produtos e também da própria formação da governança da comunidade. Hoje, o município possui cinco quilombos reconhecidos e esses grupos deram origem à cidade. Então, não fazia sentido desenvolver um destino turístico e não apresentar essa localidade como um roteiro, já que Paracatu nasceu ali”, complementa.

Patrícia destaca também que o quilombo já trabalha com visitações. “Se as pessoas desejarem ir até a comunidade São Domingos vão poder visitar o Museu quilombola e participar de ações de contação de histórias. Os produtos que a consultoria do Sebrae está trabalhando ainda não estão prontos, mas poderão ser acessados a partir do segundo semestre de 2025”.

A contadora de histórias da Casa Museu do Quilombo São Domingos, Valdete de Fátima Lopes dos Reis Brandão, conta que as capacitações têm sido bastante proveitosas. “Queremos estar preparados para receber bem os turistas, passando a nossa história e a nossa essência, para que o mundo todo possa vir nos visitar e conhecer o nosso modo de ser”.

São Domingos

Localizada a pouco mais de três quilômetros do Centro da cidade, o povoado São Domingos é símbolo de resistência e de preservação da cultura negra no município. No local, vivem cerca de 400 pessoas, divididas em pouco mais de 70 famílias. Reconhecida como quilombola pela Fundação Cultural Palmares em 2004, a comunidade guarda tradições e a memória de seu povo desde o século 18. Manifestações como a caretada ou caretagem (dança singular em homenagem a São João Batista) enaltecem e preservam os costumes dos afrodescendentes da região.

Atualmente, o povoado conta com alguns produtos turísticos, como a Casa Museu, que já recebe visitantes provenientes de projetos pedagógicos desenvolvidos no município, por exemplo. Há também a Fábrica de Biscoitos, gerida pela Associação dos Moradores da Comunidade, que produz uma grande variedade artesanal de pães, bolos, biscoitos, bolachas e roscas. Além disso, a comunidade conta com algumas atividades como a produção de açafrão, rapadura, artesanato com coco indaiá, confecção de máscaras para a carretagem e trancista, que devem compor o roteiro de experiências.

A analista ressalta que através da promoção turística, as pessoas da comunidade terão mais uma opção de emprego e renda. “Hoje, nós temos uma juventude que deixa São Domingos para buscar oportunidades de trabalho em outros lugares e que poderiam estar na localidade, preservando a cultura, o território, mantendo as manifestações culturais e o saber fazer. E isso coloca em risco a conservação da memória desse espaço. O intuito desse projeto é fazer essa preservação cultural e também do território”, finaliza.