Loraynne Araujo e Natália Macedo*
Imagine a cena: seu time está em campo e de repente o juiz marca pênalti. Nos segundos que antecedem o chute ao gol, paira um silêncio absoluto no estádio. O árbitro apita e… o goleiro defende! Não tem sensação melhor do que o alívio que vem após isso. Nessa hora, ele vira santo, todo mundo o ama e grita seu nome. Mas, e se fosse o contrário? Defender a rede de um time é uma responsabilidade e tanto. Por isso, o Edição do Brasil conversou com os goleiros dos três principais clubes do Estado para saber um pouco sobre como é jogar em uma posição amada e odiada ao mesmo tempo.
Para Victor, goleiro do Atlético Mineiro, é preciso muita paixão para proteger a rede. “Nós vivemos em um limite entre críticas e elogios. Às vezes fazemos um ótimo jogo e salvamos a equipe, mas, em outra partida, acabamos levando um gol que poderia ter sido evitado. O goleiro precisa ter um índice de acerto acima de 90% e, por isso, é necessário estar sempre concentrado para fazer o melhor dentro da grande área”.
O camisa 1 do América, João Ricardo, considera a posição uma das mais contagiantes. “Ser goleiro é muito emocionante e, também, uma responsabilidade enorme. Qualquer outro jogador pode errar, mas se nós erramos, é gol. Por isso temos que fazer o simples e mais certo possível para passar segurança ao restante do time”.
Já Rafael, goleiro do Cruzeiro, acredita que a posição é gratificante. “As responsabilidades e cobranças são, em muitos casos, maiores. Mas, fazer uma defesa, para mim, é como se fosse um gol. É prazeroso passar confiança para o time e todos que assistem ao jogo”.
Torcida
Boa parte das cobranças e críticas vêm da arquibancada. Mas, isso não abala o carinho dos goleiros pela torcida. “A massa atleticana é fiel, apaixonada e de muita fé. A energia que vem deles é um fator de motivação muito grande. Esse apoio tem muito peso no emocional dos jogadores”, declara Victor.
João Ricardo conceitua a torcida americana como o décimo segundo jogador. “O apoio deles faz o time crescer. Lá atrás, no gol, sempre vejo todo mundo gritando, cantando, incentivando e isso é muito importante”.
E Rafael atribui à massa celeste todo o sucesso do Cruzeiro. “O time é grande por causa do torcedor que se faz presente e nos dá a motivação para fazer sempre o melhor. Querendo ou não, o futebol é um espetáculo e nossa dedicação é em prol da felicidade de quem nos assiste e vibra em nossas vitórias”.
Ídolos
Todo esse carinho só poderia resultar em uma coisa: os três são, hoje, grandes ídolos das torcidas. “Para mim, é motivo de satisfação, orgulho e alegria ser considerado um dos grandes jogadores da história do clube, principalmente pelas conquistas recentes. Isso é uma fonte de motivação para, diariamente, fazer meu trabalho da melhor forma e deixar meu nome gravado no coração de cada um”, aponta Victor.
Ele recorda momentos em que sentiu a paixão alvinegra. “A conquista da Libertadores e Copa do Brasil são os dois momentos que lembro com carinho. Mas não há nada mais especial do que quando eu entro em campo e a torcida grita por mim”.
A emoção de ouvir seu nome na boca de milhares de pessoas também deixa o goleiro Rafael alegre. “Eu sempre tive um carinho muito grande por elas e recebi tudo isso de volta. Muitos momentos com a torcida são especiais, tanto dentro, quando fora de campo”.
Ele conta que sempre trabalha em prol do melhor. “O futebol proporciona oportunidade a todos, estou sempre pronto para honrar a camisa que visto há 15 anos. Vim da base do Cruzeiro, então, também sou torcedor e me sinto em casa. Me sinto em casa”.
O Campeonato Mineiro conquistado pelo América, no ano passado, é a lembrança citada por João Ricardo. “Há mais de 15 anos o Coelho não ganhava a taça. Foi muito bom dar esse presente ao torcedor americano que, agora, está alegre e confiante”.
Ele acrescenta que, desde que chegou ao clube, foi acolhido pelo torcedor. “Me receberam de uma forma que nenhuma outra torcida havia feito. Isso me faz jogar tranquilo e confiante porque sei que, mesmo errando, terei o apoio deles. O América me abriu grandes portas e eu estou muito feliz aqui”.
Rivalidade
Em campo, Atlético, América e Cruzeiro são rivais. Mas, fora dele existe muito respeito. Isso é perceptível pelo tratamento da torcida adversária com os jogadores. “A rivalidade tem que ser algo saudável, com respeito e que não incite à violência. Afinal, o futebol é para divertir as pessoas. Nunca tive muito problema com o torcedor rival, da minha parte existe um respeito que é recíproco. Dentro do estádio é normal que eles vaiem, xinguem, faz parte. Mas isso não pode interferir no nosso nível de concentração”, elucida Víctor.
João Ricardo conta que tem um ótimo convívio com os torcedores do Galo e da Raposa. “É uma relação muito amigável. Eles brincam comigo, gostam de mim. Alguns até me convidam para ir jogar em seus times. Mas estou feliz no América”.
Rafael corrobora com a fala de seus colegas. “Existe um respeito muito grande e algumas coisas a gente leva na esportiva. No dia a dia, alguns me abordam e brincam. Às vezes, recebemos críticas tanto dos torcedores do nosso time, quanto dos adversários. Mas temos que aprender a lidar com isso, faz parte do futebol”, conclui.
Foto: montagem*