O extraordinário mineiro Alberto Santos Dumont faria 150 anos. Nascido na Fazenda Cabangu, no dia 20 de julho de 1883, no município de João Aires, depois Palmyra, hoje Santos Dumont, é o sexto de oito filhos de Henrique Honoré Dumont e de Francisca de Paula Santos. Santos Dumont foi aeronauta, esportista, autodidata e inventor, reconhecido como o “Pai da Aviação”.
Em Minas, a data foi comemorada com a entrega da Medalha Santos Dumont, especialmente no dia 20 de julho, pois é outorgada no dia 23 de outubro, data do voo do “14 Bis” em 1906, o primeiro reconhecido da história. Cerimônia muito bonita, a condecoração é entregue a personalidades que atuam para o desenvolvimento de Minas Gerais. A Comenda, instituída pela Lei Estadual nº 1493, de 16 de outubro de 1956, foi uma criação do coronel PM médico Paulo Penido, heraldista, que a apresentou ao governador Bias Fortes. No governo Eduardo Azeredo, a Medalha teve nova configuração.
Os Estados Unidos até hoje disputam a criação do avião. Em 1903, três anos antes do “14 Bis”, circulou notícia das experiências bem-sucedidas de voos naquele país com aparelho mais pesado do que o ar: o avião “Flyer”, construído pelos estadunidenses irmãos Wright, no entanto, sem nenhuma comprovação. Segundo o dedicado historiador carioca Gustavo de Mello, “em 1908, dois anos após o voo do ‘14 Bis’, os Wright apareceram na França com um engenho denominado ‘Flyer III’, e fotos de seu voo, afirmando terem sido tiradas em 1903, 1904 e 1905. Entretanto, as características do aparelho em 1908 ainda permaneciam as mesmas de 1903”.
Os voos, segundo os irmãos, foram realizados em segredo, praticamente sem testemunhas. Outros países também disputam a precedência: Alemanha, França e Turquia. Sem nenhuma comprovação, em segredo, poucas testemunhas e com fotos possivelmente de datas duvidosas. Três anos após a notícia, o “14 Bis” voou e, dois anos depois dessa apresentação, os estadunidenses Wright aparecem em Paris para afirmar que são os autores da invenção. Muito estranho.
Em decorrência da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942, os Estados Unidos passaram a investir pesado para demonstrar hegemonia como inventores do avião com os Irmãos Wright, cujo “Flyer” tinha dois motores de 12 HP, e o mais bizarro é que não tinha trem de pouso. Usava um tipo de esqui e um sistema de catapulta para poder decolar. Ao contrário, o voo do “14 Bis” de Santos Dumont foi presenciado por comissão científica do Aeroclube da França, o primeiro órgão aviatório do mundo. Na ocasião, também havia um grupo de jornalistas e de pessoas assistindo, por assim dizer, de camarote. Cerca de “mil assistentes”, segundo Mello. Conforme o Aeroclube da França, e como todos podem ter essa percepção depois do feito, o “14 Bis” tinha trem de pouso, motor de 50 HP e decolava e pousava por meios próprios. Isso sim era um aparelho com todas as condições necessárias de um avião. Mello afirma categórico que “os irmãos americanos tinham um planador com motor, e não um avião”. Não há como fugir.
Já o demoiselle do genial mineiro foi o primeiro avião a ser produzido em série: mais de 100 unidades criadas por aficionados no mundo. Santos Dumont fez questão de não patentear nada, ou seja, a imitação era livre. E isso foi um imenso impulso à aviação, que se desenvolveu mais rapidamente na Europa sem os entraves criados pelos Wright. Só por isso já vale o título de “Pai da Aviação”. E deveria, por obrigação, ser reconhecido por todos os países.
*Escrito pelo Advogado, escritor e jornalista Ozório Couto