O Brasil tem sua terceira crise hídrica em 20 anos, com escassez de chuvas, reservatórios em níveis baixos e maior demanda por energia em razão da reativação da economia para patamares pré- -pandemia em vários setores. Isso acontece, principalmente, pela má gestão de recursos naturais e reflete no aumento das tarifas. Sendo assim, fica evidente a necessidade de investir em outras fontes energéticas. Sobre este tema, conversamos com Brás Justi, CEO de uma empresa de tecnologia que atua com comercialização e gestão inteligente de energia elétrica, além de ser especialista no setor há 15 anos.
Por que o Brasil enfrenta mais uma crise hídrica?
O país passa pela pior crise hídrica dos últimos 91 anos e seus reflexos já são percebidos nas tarifas de energia. Com a escassez de chuvas e os baixos níveis dos reservatórios, o governo aciona as termelétricas, que têm um custo mais alto, além de serem mais poluentes, e recorre à importação para atender a demanda. A situação pode se agravar, caso o período chuvoso frustre as expectativas, o que é bastante preocupante para um país que tem mais de 60% de sua geração proveniente de hidrelétricas. E o momento não poderia ser pior. Vários setores da economia estão sendo reativados e buscam se recuperar dos efeitos da pandemia, o que deve aumentar a demanda.
Qual a importância de investir em outras fontes de energia?
Fica evidente a urgência de investimentos na geração por meio de outras fontes renováveis, como a eólica e a solar, o que diminuiria a pressão sobre os recursos hídricos, além dos impactos ambientais. O Plano Decenal de Expansão de Energia projeta um crescimento de 32% na capacidade instalada de geração eólica e solar até 2025. Com isso, a participação dessas fontes na matriz energética passaria a ser de 15%, um cenário melhor que o atual.
O governo tem debatido sobre o Mercado Livre de Energia?
Além de reforçar a importância de uma maior diversidade da matriz energética, a crise hídrica acelera o debate sobre um Mercado Livre de Energia mais acessível, inclusive, aberto aos consumidores residenciais, ainda atrelados ao mercado cativo. O governo vem conduzindo uma abertura gradual desse ambiente de negócios, prevista para ser concluída em 2024. Contudo, já é bastante positivo que tenhamos mais agentes livres no futuro. O processo de abertura diminui os níveis mínimos de consumo exigidos para a entrada de novos consumidores. Hoje, o Mercado Livre atende 35% do consumo no Brasil e são mais de 8 mil agentes livres no país, números que tendem a crescer.
Consumidores do Mercado Livre também são afetados pelas crises hídricas?
Sim, mas eles conseguem se proteger melhor desse impacto. Não apenas porque têm liberdade de escolher de quem comprar energia, mas porque podem negociar a aquisição com antecedência. Quando isso é feito de maneira estratégica, a transação ocorre em condições e momentos mais favoráveis, vantagem que os consumidores do mercado regulado não possuem.
Quais outros benefícios a modalidade possui?
Além disso, no Mercado Livre, o consumidor sabe o preço que pagará pela energia dentro do prazo estipulado em contrato. Essa previsibilidade financeira é outra vantagem que os consumidores do mercado cativo não têm. Não à toa, tantas empresas têm migrado para o Mercado Livre e contratado consultorias especializadas na compra e venda de energia elétrica, alcançando reduções significativas nas despesas com esse insumo, graças a uma gestão de energia mais estratégica e direcionada.
O país tem o desafio de planejar o atendimento da demanda por energia elétrica com sustentabilidade ambiental e econômica. Crescem, portanto, as expectativas para um horizonte de matriz energética mais diversificada e consumidores mais livres para negociarem a compra da energia que precisam. Um mercado não apenas livre, porém, mais justo e competitivo.