A política não tem conseguido captar os sinais subjetivos a respeito de uma instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com a finalidade de investigar a atuação dos homens públicos nas esferas federal, estadual e municipal. Contudo, parafraseando o escritor Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pedra” e, neste caso, um atalho de denominação comum nos meandros das instituições públicas: as CPIs.
Toda a estrutura montada, imaginada e nutrida pelos assessores tem o objetivo de propagar cada vez mais os atuais mandatários e os pretensos candidatos a cargos eletivos. No entanto, eles vão precisar rever os conceitos devido ao sacode a partir da CPI da COVID-19, no Senado Federal, em Brasília. Até agora, a comissão já ouviu dezenas de testemunhas e investigados para tentar esclarecer os acontecimentos negativos que marcaram e ainda marcam a vida dos brasileiros ao longo desses mais de 15 meses de pandemia.
O foco principal é chegar a nomes de possíveis culpados, mas o estrago político vem crescendo a cada dia e isso tem incomodado o Palácio do Planalto. Afinal, a constatação desta narrativa é pertinente ao se verificar que, por vezes, algumas autoridades ou ex-auxiliares do presidente Jair Bolsonaro recorreram à Justiça, mais precisamente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em busca do beneplácito da Corte para terem o direito de permanecerem calados, evitando, assim, produzirem provas contra si mesmos.
Em geral, o tema relacionado à COVID-19 está pautando à vida de todos os administradores públicos, tanto que em várias cidades foram instaladas CPIs. Aqui, em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), está convivendo com duas ao mesmo tempo. Uma referente ao sistema de transporte coletivo e outra para apurar a atuação da prefeitura no que se refere ao processo de vacinação contra o coronavírus.
Como o mote está em evidência, o governo do Estado também tem convivido com a implementação de duas comissões: a primeira, já com quase 3 meses de atuação, e comandada pelo deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania), almeja encontrar nomes que foram apontados como Fura-Filas no processo de vacinação de pessoas lotadas na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). E, recentemente, foi apresentada ao Plenário outra que tem o intuito de saber sobre os meandros da Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (Cemig).
No Congresso Nacional, na Prefeitura de Belo Horizonte e no governo de Minas, esses instrumentos são usados para elucidar possíveis desmandos. E, em diferentes níveis, tem motivação de ordem jurídica e técnica para garantir o zelo do ente público. Entretanto, no cerne de todas essas investigações, há algo não confessado: tudo acaba virando palanque eleitoral. Uma prova disso é observar como os debatedores das sessões se esmeram para conseguir espaço na mídia. Muitos dos participantes das CPIs estão de olho em suas reeleições no próximo ano.
Quanto à vida das pessoas, especialmente diante de um quadro de mais de 500 mil mortos no país em decorrência do coronavírus, tudo fica cada vez muito nebuloso. A sensação é a de que estamos em um imenso circo, no qual a população é telespectadora de um espetáculo de horrores, enquanto as palhaçadas públicas continuam acontecendo.