Home > Economia > Desemprego entre jovens bate recorde histórico

Desemprego entre jovens bate recorde histórico

Em tempos de recessão econômica, potencializada pela COVID-19, o índice de desemprego segue alto no Brasil, atingindo cerca de 13,1 milhões de pessoas. Entre os jovens de 18 a 21 anos, os números são ainda mais preocupantes e a taxa de desocupação entre eles foi de 16,4 pontos percentuais a mais que a população em geral no segundo trimestre do ano. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (PNAD).

A desocupação nessa faixa etária atingiu 29,7% contra 13,3% para a média geral. Desde o início da pesquisa, em 2012, nunca havia sido registrado um apontador tão elevado. Para especialistas, isso cria um conflito com a educação desses jovens.

Isso porque, segundo a pesquisa “Juventude na escola – por que frequentam?”, feita pelo Ministério da Educação (MEC), Organização dos Estados Interamericanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), quase 60% dos alunos, entre 15 e 29 anos, em algum momento de suas vidas precisaramconciliar emprego com escola. Ou seja, se não trabalham, dificilmente irão conseguir acesso ao ensino superior.

A dificuldade da juventude em conseguir um emprego impacta no índice de evasão escolar e isso traz gastos para o país. Dados indicam que esse fator gera perda de R$ 372 mil por ano. Estima-se ainda uma despesa de R$ 214 bilhões para o Brasil anualmente. O que equivale a 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

A recrutadora de uma empresa especializada em estágios, Giulia Forte, afirma que os jovens já possuem um impacto maior de desemprego. “Quando comparamos a quantidade de adolescentes versus o número de vagas, notamos a discrepância. Com isso, quando há uma crise a oferta aumenta. Hoje, temos uma taxa de 13,3% de desemprego no geral, já para a faixa etária de 18 a 24 anos, é de 29,7%. Ou seja, 16,4% maior”.

Giulia ressalta que muitos jovens precisam da renda para estudar e que as vagas exigem experiência. “Se não tiverem uma oportunidade, não terão prática. Com isso, o desemprego aumenta, logo, cresce o número de cancelamento de matrículas nas universidades ou até mesmo de dívidas”.

A especialista acrescenta que, quando o jovem está sem renda, a graduação é o primeiro item a ser eliminado. “Isso causa desmotivação. O Brasil precisa focar no desenvolvimento de novos profissionais com ensino superior e pós-graduação. Enquanto não for contido esse forte abandono da sala de aula, continuaremos com baixos índices de produtividade”.

Giulia diz que esse investimento é comum em países mais desenvolvidos. “Enquanto na Coreia do Sul quase 70% da população de 25 a 34 anos têm nível superior, no Brasil esse índice não chega a 20%. Consequência: estamos sempre com problemas de inserção dessa juventude. No pior efeito, há a violência e desânimo e cria-se uma geração sem sonhos que gera um país sem futuro”.

Solução

A recrutadora explica que uma solução eficaz para conter o avanço do desemprego entre os jovens é a adesão do regime de estágio. “Pensando na empresa, um estagiário possui um custo muito menor em relação a um CLT, logo, é um colaborador mais barato”.

Ela afirma que, muitas vezes, essa é a primeira oportunidade desse jovem que vem como uma folha branca, pronto para absorver as orientações e ensinamentos que seguem as diretrizes da empresa. “Completados até 2 anos ou quando precisarem contratar um CLT, a companhia terá um colaborador experiente na função e muito mais alinhado com os objetivos da marca, se comparado com um candidato externo”.

Segundo a especialista, os benefícios em contratar um estagiário são muitos. “Além de dar a oportunidade para quem está entrando no mercado agora, gera motivação e diminui a exclusão social. Por isso, apostar nos jovens como estagiários e qualificá-los é o segredo de sucesso para uma organização e nossa sociedade”.

O estudante de administração Wagner Sousa e, agora, estagiário no setor financeiro de uma clínica médica conta como a primeira oportunidade o ajudou a continuar estudando. “Tenho bolsa de 70% na minha faculdade, mas os outros 30%, mesmo sendo uma porcentagem baixa, estava comprometendo a renda da casa”.

A solução foi entrar na informalidade. “Comecei a vender doces e a dar aulas particulares de matemática para crianças. Porém, quando a pandemia começou, as lições foram canceladas e as vendas caíram muito. No meio deste ano estava certo de que teria que trancar minha matrícula, contudo fui chamado para o processo seletivo e passei”.

Para ele, muito além do dinheiro, o estágio ajudará a arrumar uma boa colocação quando acabar a graduação. “Tenho a oportunidade de ser contratado na empresa que estou e, se isso não acontecer, tenho experiência no currículo, o que conta muito”, conclui.