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Ministério do Esporte cria ação para promover a paz no futebol

Cadeiras vazias no estádio representam as vítimas de violência em eventos esportivos / Foto: Antônio Chequer

O futebol, paixão nacional e símbolo da cultura brasileira, está cada vez mais envolto em um problema que ameaça sua essência: a violência. Nos estádios, nas arquibancadas, nas ruas e até nas redes sociais, a violência no futebol brasileiro tem se tornado uma questão recorrente, com consequências profundas para os torcedores, jogadores e para a própria imagem do esporte.

Por isso, o Ministério do Esporte deu início à campanha “Cadeiras Vazias”, um movimento de ocupação pela paz no futebol, com o propósito de sensibilizar sobre a violência nos estádios e promover a paz durante as partidas. A ação foi apresentada durante o confronto entre Bahia e São Paulo, válido pela 32ª rodada da série A do Campeonato Brasileiro, realizado no dia 5 de outubro.

Na Arena Fonte Nova, em Salvador, o setor Sudoeste teve 384 cadeiras vazias, cobertas por camisas de diferentes equipes. Cada cadeira simbolizava uma vítima de violência em eventos esportivos entre 1988 e 2023, conforme dados levantados pelo jornalista Rodrigo Vessoni.

Para o especialista em segurança pública, Marcelo Cunha, o futebol brasileiro tem uma história de rivalidade intensa entre torcidas, mas nos últimos anos, a violência no esporte parece ter atingido um novo patamar.

“Brigas generalizadas, invasões de campo e agressões a jogadores, árbitros e até mesmo jornalistas se tornaram cenas comuns em jogos das principais divisões, principalmente nas séries A e B do Campeonato Brasileiro. A violência, muitas vezes, começa nas arquibancadas e se espalha para fora do estádio, afetando a segurança nas ruas e no transporte público”.

Ele ressalta que as autoridades públicas e os clubes têm buscado alternativas para enfrentar a violência no futebol, mas os resultados ainda são tímidos. “O uso de câmeras de segurança e o aumento da presença policial nos estádios são algumas das medidas adotadas para tentar conter os conflitos. No entanto, essas ações são paliativas, já que não atacam as raízes do problema, que estão mais relacionados à cultura da violência e ao incentivo à rivalidade excessiva”.

O Relatório Violências no Futebol Brasileiro revelou que 70% dos casos de violência no futebol brasileiro aconteceram fora dos estádios do país, por isso, deve-se realizar um acompanhamento mais rigoroso das torcidas organizadas. “Uma possível ação seria criar um cadastro para identificar os membros envolvidos em atos de violência ou outras condutas criminosas. As torcidas também podem ser responsabilizadas quando seus membros forem flagrados em atos violentos. As lideranças das torcidas organizadas devem ser envolvidas em campanhas de conscientização e diálogo com os clubes e com a polícia, para garantir que haja uma cultura de respeito e segurança dentro dos estádios”, explica.

A socióloga Andreia Lima diz que a mudança de paradigma no futebol brasileiro passa pela educação das novas gerações de torcedores e pela transformação da cultura da violência. “As federações estaduais e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) têm um papel central na construção de um ambiente mais seguro dentro dos estádios e fora deles. O desenvolvimento de políticas públicas para a prevenção da violência, o treinamento de segurança e a criação de normas rígidas para o comportamento dos torcedores podem ajudar a mitigar o problema. O apoio a iniciativas de torcida limpa e a formação de uma cultura de paz nas arquibancadas também são fundamentais”.

“A violência no futebol brasileiro não é apenas um problema do esporte, mas um reflexo de questões sociais mais amplas, como a desigualdade, o racismo e a homofobia. A sociedade, os clubes e as autoridades precisam entender que o futebol é uma vitrine do que somos enquanto nação e que a violência só contribui para a deterioração daquilo que deveria ser uma celebração do talento e da paixão”, destaca Andreia.