A população dos Estados Unidos vai às urnas em 5 de novembro para escolher o 47º presidente do país. Na sondagem mais recente, a candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, tem leve vantagem em nível nacional, com 49%. Já o seu adversário republicano, Donald Trump, aparece com 46%. A pesquisa é do jornal The New York Times.
O Edição do Brasil conversou com o chefe da assessoria de Relações Internacionais do Ministério do Planejamento e Orçamento, Diogo Ramos Coelho, para entender os efeitos dessa eleição no Brasil.
Como essa nova gestão nos Estados Unidos, tanto se for do partido democrata quanto republicano, pode impactar o Brasil?
A nova gestão nos EUA, seja democrata ou republicana, impactará o Brasil por meio das suas políticas externas e comerciais, além de suas abordagens sobre mudança do clima, segurança e geopolítica. É importante lembrar que, embora os dois partidos tenham abordagens distintas para diversos destes temas, a relação dos países em questão é bastante robusta, que não foi abalada em sua essência por mudanças de governo ou de perfis dos presidentes.
É possível determinar mais pontos positivos para a relação Brasil e EUA com a vitória de determinado candidato?
A vitória democrata poderia favorecer essa relação em áreas como sustentabilidade, mudança do clima e energia renovável. Um triunfo republicano pode priorizar temas como segurança, imigração e competição geopolítica com a China.
Atualmente, o Brasil luta para diminuir o desmatamento e tenta ampliar a produção de energia renovável. Com uma nova gestão nos EUA, o debate sobre esse assunto poderia tomar rumos diferentes, dependendo do candidato vencedor?
Com uma administração democrata, há a expectativa de maior cooperação na luta contra o desmatamento e no apoio à energia renovável, dada a prioridade histórica do partido para temas ambientais. Uma vitória republicana, por outro lado, pode reduzir o apelo a essas iniciativas. É útil recordar que Donald Trump, quando foi presidente, optou por retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris.
A relação do Brasil com a China, e também a evolução do Brics, podem ser pontos que serão observados mais atentamente pelos EUA, em 2025, independente de quem ganhar?
Independentemente do partido no poder, a crescente influência política da China e a evolução do Brics estão no radar dos EUA, especialmente considerando a atual competição geopolítica entre Washington e Pequim. Diversos países do grupo, porém, tem buscado desenvolver uma política externa que não se limita, ou não se deixa contaminar, por essa competição geopolítica. Essas nações estão mais preocupadas com a vulnerabilidade climática, com o combate à fome e à pobreza, com o acesso a fontes de energia e a investimentos, com a preservação de suas redes de comércio, com o progresso tecnológico, com melhorias nos sistemas de infraestrutura, de saúde e de educação; enfim, com o seu desenvolvimento.
Em relação às guerras, tanto no Oriente Médio quanto na Ucrânia, existe alguma ação que o novo presidente dos EUA possa tomar que prejudique o Brasil?
Embora o Brasil não esteja diretamente envolvido nesses conflitos, uma nova administração nos EUA pode adotar políticas que indiretamente afetem o país, especialmente se houver sanções econômicas ou mudanças drásticas no comércio global que prejudiquem parceiros comerciais do Brasil. Além disso, qualquer agravamento desses conflitos pode gerar instabilidades políticas que impactam a economia global, afetando também a brasileira.
Como ficaria a relação com a América Latina, com uma nova gestão democrata ou republicana?
É difícil fazer previsões, mas a história recente pode dar pistas. Com uma gestão democrata, é provável que a relação dos EUA com a América Latina, incluindo o Brasil, foque em cooperação multilateral, direitos humanos, democracia e meio ambiente. Já uma gestão republicana tende a dar ênfase a acordos e negociações bilaterais, segurança e controle imigratório.