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Importações de calçados da China aumentaram 261%

Já as exportações seguem registrando quedas consecutivas / Foto: Shutterstock.com

 

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), entraram no Brasil mais de 705 mil pares de calçados chineses, somente no mês de junho, sendo 261% a mais do que no mesmo período do ano passado. A China só fica atrás do Vietnã no ranking de países de origem das importações.

Segundo o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, as exportações totais da China para o mundo vêm crescendo. “O maior aumento das vendas chinesas, no período, foi para os países da América Latina, com expansão de 19,8%, em volume. Nessa região estão alguns dos nossos principais destinos”.

O mestre em economia, Heldo Siqueira, explica que o movimento de expansão das importações de produtos chineses não é uma questão apenas do setor calçadista, mas da indústria em geral. “Inicialmente, vale salientar que o mercado chinês, de 1,4 bilhão de pessoas, permite uma produção em enorme escala, que dilui os custos fixos, tornando as mercadorias mais baratas”.

“Além disso, a taxa de juros do Banco do Povo da China é de 2,5%, quanto a equivalente no Brasil, a Selic, é de 10,5%. Por fim, as tarifas de energia, um dos principais insumos para qualquer produção moderna, estão entre as menores do mundo na China. Essas características combinadas permitem uma competitividade que, muitas vezes, não pode ser acompanhada pela indústria brasileira”, complementa.

Ele revela também que o impacto das importações no setor nacional se dá em dois aspectos contraditórios. “Para o consumidor, o aumento das importações ocorre pelo preço mais competitivo dos produtos estrangeiros. Entretanto, o crescimento das importações representa uma queda da comercialização da produção nacional, o que impacta a indústria tanto na criação de empregos quanto na geração de renda”.

 

Exportações

Ainda conforme o estudo, as exportações brasileiras somaram 5,5 milhões de pares, 26,2% a menos do que no mesmo mês do ano passado. No acumulado do primeiro semestre, foram exportados 48,45 milhões de pares, 25,5% a menos do que no mesmo intervalo de 2023.

O principal destino das exportações brasileiras, no primeiro semestre, foi os Estados Unidos, que importaram o equivalente a 5,11 milhões de pares, 3,8% a menos do que no mesmo período do ano passado. O segundo foi a Argentina, que importou 4,6 milhões, 41,1% a menos do que em 2023. Completando o pódio, aparece o Paraguai, que importou 3,9 milhões de pares de calçados, 25% a menos do que no mesmo período pesquisado.

Os dados apontam também que o Rio Grande do Sul segue sendo o principal exportador de calçados do Brasil. No primeiro semestre, partiram do Estado 15,28 milhões de pares, 15,7% a menos do que no mesmo período do ano passado. Na sequência, aparecem o Ceará (15,28 milhões, queda de 23,6%) e São Paulo (2,94 milhões de calçados, 32,1% a menos do que em 2023).

 

Futuro

Para o economista, sem uma política industrial que minimize as diferenças nas condições de produção entre Brasil e China, a tendência de longo prazo é um aumento contínuo das importações. “Mesmo assim, no curto período, a valorização do Real/ dólar, que saiu de R$ 4,89 em janeiro para R$ 5,41 atualmente, deve tornar as importações mais caras e mitigar um pouco esse efeito no curto prazo”.

Já sobre um acordo de livre comércio entre Mercosul e China, Siqueira diz que seria desastroso para o setor calçadista e para a indústria em geral. “O Mercosul é um dos principais destinos das exportações industriais brasileiras, com a abertura desse mercado, possivelmente, deve haver um expressivo aumento da substituição de produtos brasileiros por chineses e a consequente queda da produção nacional”.