Enquanto esquenta a “querela” entre o Planalto e o Banco Central (BC), à medida que se aproxima o pleito municipal, a inflação prossegue ascendente, e com isto, pela sétima vez consecutiva, o boletim Focus, que consulta as maiores instituições financeiras nacionais pelo BC, projetou no início da semana a alta do IPCA, cada vez mais distante do centro da meta da inflação (3%) e mais próximo do teto desta (4,5%), como o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu. Os resultados apurados refletem a dificuldade em alcançar níveis mais satisfatórios de confiança e parecem estar vinculados às limitações financeiras das famílias e às taxas de juros elevadas, evidenciada pelos indicadores da situação financeira atual e da intenção de compra de duráveis.
A retomada dos investimentos na economia está sob risco, em decorrência de fatores negativos, como a escalada do dólar, a manutenção dos juros em patamar elevado (10,5% ao ano), como também pela percepção predominante do mercado ante à dificuldade de ajuste das contas públicas pelo governo atual. Mesmo a despeito do avanço da taxa de investimentos, verificado no primeiro trimestre do ano, sobretudo pela importação de máquinas e equipamentos, incentivadas pela então estabilidade do dólar, vemos que no momento a tendência dá sinais de ter perdido o ímpeto, segundo os especialistas. O atual cenário de alta volatilidade cambial não favorece novos planos. Tivemos um começo de ano até otimista, mas isso se reverteu com toda esta instabilidade, sendo baixa as possibilidades de investimentos ao compararmos com 2023.
Em demonstração inequívoca de autonomia na capacidade de avaliação da atual conjuntura econômica imprevisível, que impõe o risco de a parada dos cortes da Selic ser substituída por novo aperto monetário por parte do BC, a equipe econômica do atual mandato presidencial, indo de encontro à intransigência palaciana, classificou de acertada e crucial a decisão unânime de se manter a taxa básica de juros, para evitar uma deterioração das condições de mercado do país. Validando a posição dos membros aliados do governo no Comitê de Política Monetária (Copom), favoráveis à estabilidade da taxa básica, a equipe manifestou preocupação com a possibilidade de uma nova escalada do dólar. Uma eventual divergência na votação poderia desencadear uma crise de confiança, a ponto de pressionar pelo aumento das taxas de juros de longo prazo. A conclusão óbvia é que a estratégia do atual mandatário do Executivo nacional, de atacar o presidente da autoridade monetária, além de ter se revelado infrutífera, também abre uma séria cisão entre a ala econômica do governo, um mal indicativo para a gestão da economia ou para o desempenho petista no pleito municipal, logo ali.
Neste quadro conturbado, o atual presidente nacional tenta se posar de vítima, mas está nocauteado, arranhando a capacidade e credibilidade do Brasil, demonstrando que as taxas de juros são consequências de uma má gestão, com dois ministros batendo cabeça, não sabendo mais o que fazer e onde arranjar dinheiro, pois gastaram antes de arrecadar. É o retrato de um governo que está nas cordas e tendo que reagir, só lhe resta o ataque, na tentativa de não sofrer nocaute. O seu governo demonstra uma incompetência de tentar reativar um arcabouço fiscal que foi votado no ano passado, cuja meta fiscal foi a sua capacidade de gerir contas públicas. O problema do país é fiscal. O Real já é a moeda de pior performance no planeta. O problema sendo fiscal, deixa claro que a taxa de juros é consequência. Para reforçar, ele demoniza o BC e o agronegócio. E olha que o BC foi eleito recentemente como o melhor do planeta e o seu presidente, Roberto Campos Neto também eleito como o melhor do mundo.
O atual governo deveria primeiro olhar o quanto teria que arrecadar para pagar as despesas já existentes, porém, contratando novas despesas ficou com o cobertor curto e o mercado então precifica a nossa perda de credibilidade. O nome que se dá no mercado para a taxa de risco é juros. Quanto maior o risco de aplicar dinheiro aqui, maior tem que ser os juros, senão o dinheiro vai embora e para de entrar, o dólar sobe, a bolsa cai e os juros sobem, sendo este o retrato do mercado financeiro brasileiro, graças à ineficiência do governo de apresentar, de colocar na mesa um plano com credibilidade, com receitas e despesas capazes de provar que estamos caminhando junto ao equilíbrio das contas públicas. Se você gasta mais do que arrecada, só aumenta sua dívida. E se acontece, diminui a sua capacidade de pagamento. Na sequência, o seu credor passa a querer mais juros para continuar acreditando em você.
Mas o que vemos no momento é a inflação sendo projetada para cima, o dólar saindo de R$ 5 para o alto, a bolsa sendo considerada a pior do mundo, mostrando que o risco Brasil só faz aumentar, sem a menor condição de abaixar os juros. Falta gestão neste momento delicado. O mercado reage, afetado pela expectativa de que os juros altos estimulem a migração dos investidores da bolsa para a renda fixa, aplicação menos arriscada. As declarações do atual presidente, no entanto, trouxeram instabilidade ao mercado financeiro por indicar a possibilidade de o próximo presidente do BC sofrer interferências do Planalto, apesar da autonomia formal da autoridade monetária. Todos os problemas esbarram no controle das contas públicas para que o endividamento não seja elevado a um nível que ofereça aos investimentos em títulos do Brasil o risco de inadimplência. O que deve ser cobrado é uma maior eficiência nos gastos não apenas do Executivo, para que se saiba o que efetivamente está sendo desembolsado e para qual finalidade. Mais controle e mais transparência sobre esses gastos em um esforço que é preciso repetir: não é apenas do Executivo, mas de toda a União, incluindo os outros dois Poderes, de estados e municípios. É preciso que todos estejam imbuídos no mesmo propósito.