Home > Artigo > O povo e seus “tentáculos”

O povo e seus “tentáculos”

Povo, pessoas que convivem em um determinado espaço físico sob um sistema de organização política e administrativa, até aí tudo bem. Mas, quando se fala em povo, logo surge na mente a palavra democracia. Embora com conceitos diferenciados, a democracia tem como fundo o poder que emana do povo na escolha daqueles que irão dirigir politicamente e administrativamente os espaços físicos ocupados, municípios, estados e países.

Mas que povo é este que exerce o seu dever democrático de escolher seus representantes? Plagiando o grande escritor Guimarães Rosa quando se referia a Minas Gerais, o povo também são muitos. Vejamos alguns exemplos.

Temos o povo que elegeu Lula para presidente no último pleito, assim como os representantes na Câmara e no Senado Federal, mas parece que cada um dos eleitos tem seu próprio povo de estimação.

O presidente Lula trabalha para o bem de todo povo brasileiro, pelo menos na teoria, só que não acontece assim. Cada projeto dele encontra resistência nas duas Casas, parece que o povo do Lula não é o mesmo do Lira, presidente do Congresso, nem é o mesmo do Pacheco, presidente do Senado Federal. Também não é o do Zema, governador de Minas, nem do Tarcísio de São Paulo. Isso virou uma rotina na política brasileira. Ninguém pensa no bem comum, mas apenas no próprio umbigo, cada um puxando lenha para o seu povo, sem se importar com os outros.

E pode acreditar que o povo do Lira não é o mesmo dos deputados federais. Nesta legislação, estamos assistindo a uma lista de projetos que não trazem benefícios para todos, apenas para uma parcela.

Existe um povo evangélico que vive em outro mundo. O Jesus dele é o mesmo do mundo católico, nasceu e viveu como um palestino. Mas esse mesmo povo evangélico apoia Israel, que não acredita no Messias e mantém um massacre contra os palestinos. Parece inexplicável e até complicado entender.

Existe um outro povo que pede o fim da saidinha de presos em datas especiais, mas vota pela libertação de um dos envolvidos no crime de maior repercussão no país nos últimos anos. Contradição ou burrice? Mas, ainda tem outro povo que vota projetos só para intimidar outros poderes, pouco importa a relevância do que querem.

Recentemente, a imprensa noticiou a intenção da direção do Banco do Brasil em solicitar um aumento para o presidente da República da ordem de 57%. Não porque acham que o presidente ganhe pouco, mas para beneficiar seus próprios diretores, já que o aumento teria um efeito cascata em diversos órgãos. Mas não atinge o povo, que por sinal teve um aumento de 3,6% no dia 1º de janeiro.

E os povos das florestas? Cada dia são mais ameaçados pelos povos urbanos que querem suas terras para criar gado e buscar riquezas, que mesmo com poucos representantes políticos, dependem muito mais do presidente para conseguir alguma coisa.

Na música também tem povos diferentes. Tem o povo do rock, o povo do sertanejo, o povo do funk, o povo do axé, o povo do samba, cada um no seu quadrado. Ninguém quer saber de misturar, só mesmo o empresário do Rock In Rio que vê um filão nos múltiplos ritmos.

E poderia ficar aqui gastando as linhas do nosso Edição do Brasil para enumerar povos diferentes neste país e que não conseguem sequer exercer bem o seu direito sagrado de votar. A cada eleição estamos colocando gente que não pensa na gente para nos dirigir. O velho ditado está sempre na moda, cada povo tem o governo que merece, mas “oh povinho bunda”.