Em 2016, nosso país se via mergulhado em escândalos de corrupção sem precedentes e a questionáveis denúncias de improbidade administrativa da presidente Dilma (PT) por abertura de créditos suplementares sem a autorização expressa do Congresso, que resultou em seu impeachment, muito embora estivesse claro que esse fato era apenas um pretexto para um propósito.
Antecedendo à sentença definitiva de impedimento da presidente Dilma, a sociedade organizada, num gesto inquestionável de democracia, foi fortemente estimulada pela grande mídia a ir pra rua mostrar sua indignação, bradando palavras de ordem como “chega de impunidade” e “chega de corrupção”. Este movimento, se vendo na TV, se sentia forte, motivado e dotado da nobre sensação de soberania popular. Assim, nesse casamento do povo com a grande mídia, o que se exibia era uma enorme vontade de mudar o Brasil, de endireitar nosso país.
As denúncias eram, efetivamente, graves e os movimentos populares eram realmente necessários. E isso, nenhum brasileiro dotado de boa-fé tem como negar.
Ocorre que nos bastidores do poder, as motivações nem sempre são tão nobres e tão altruístas. Vale lembrar que o PMDB foi aliado do PT desde o primeiro mandato do presidente Lula e que, Temer, vice de Dilma, quando presidente interino, também assinou decretos para abertura de créditos suplementares sem a devida aprovação do Congresso. Aí cabe o primeiro questionamento: por que Temer, cometendo o mesmo deslize, não foi igualmente impedido?
Não bastando a ausência desse justo critério, em tempos recentes, o próprio Michel Temer (PMDB) foi flagrado em crimes de corrupção passiva, prevaricação e em inúmeras e deslavadas mentiras sem apresentar nenhum pudor ou moral. A quase totalidade de seus ministros foi citada em denúncias sólidas e sequer foram afastados de seus cargos para serem investigados, como ele mesmo havia prometido na grande mídia. Os números negativos do nosso país têm sido, escancaradamente, exibidos. O desemprego tem aumentado o PIB com índices negativos como nunca houvera na história do Brasil e uma dívida pública como nunca tivemos.
Então, por que diante de escândalos tão mais graves e crise tão mais acentuada, a mesma sociedade se mostra nesse momento, aparentemente, apática e tristemente acomodada? Por que a Justiça e o nosso Congresso se mostram tão coniventes? Por que temos, descarada e injustamente, duas medidas para um mesmo peso?
O fato é simples e seu efeito devastador. Além de não possuir nenhum atributo efetivo para ser presidente e governar um país da magnitude e importância do Brasil, Temer possui uma vaidade doentia e um comprometimento irrestrito firmado com os interesses internacionais. Interesses esses representados no país pela “grande mídia”, incluindo a entrega das nossas verdadeiras riquezas e a concentração de renda, com o desmonte da Previdência Social e de grande parte dos direitos dos trabalhadores, sob o falso argumento da modernização. Tudo avalizado pelo nosso Congresso, que não cansa de nos mostrar o quanto é leviano e barato. Com raríssimos e honrosos parlamentares corajosamente fazendo as exceções.
O que não se pode negar em todo esse processo é a validação da grande mídia como representante desses interesses internacionais, que se dá, por um lado, pela extrema ganância e pela necessidade de efetivo poder e, por outro, pelo inestimável e inquestionável poder de influência exercido por ela na sociedade, lastreado numa suposta credibilidade construída às custas da bem elaborada falta de informação da nossa população.
Portanto, por raciocínio lógico e simples, podemos concluir que, naquele momento da nossa história, a sociedade foi induzida a um levante, não contra à corrupção e a impunidade, mas contra um partido que atrapalhava esses interesses internacionais. Prova cabal é que, mesmo o país vivendo hoje um cenário, em todos os aspectos, muito pior, a mídia e a Justiça se calam e a sociedade, lastimavelmente, se coloca conformada diante deste cenário e, diante de um Congresso corrupto que se vende por pouco sem a menor cerimônia ou discrição.
A grande mídia, fragmenta as informações de forma a não criar um movimento coletivo de indignação. Essa estratégia tem o claro propósito de gerar no cidadão o sentimento de ser ele o único indignado, portanto, frágil e incapaz de reeditar o “vem pra rua”.
Além das consequências práticas e econômicas resultantes desse crime contra nosso país e nosso povo, essa estratégia faz com que o cidadão perca suas referências, por ver a prosperidade da injustiça no sistema político e Judiciário. Com isso, o cidadão vai aos poucos perdendo também a nobreza da sua ética e a retidão dos seus atos.
Nesse quadro de “manda quem não pode e desobedece quem tem juízo”, o cidadão/contribuinte começa a se dar o direito de nem sempre cumprir as leis, de não cumprir com suas obrigações básicas como, por exemplo, pagar seus impostos para não se sentir roubado, o que o leva a ter que arcar com serviços que seriam de responsabilidade do Estado, como, segurança, educação e saúde.
Os ricos, pela insegurança e pela mesma revolta, deixam de investir no país, deixando de gerar renda e trabalho, indispensáveis para a manutenção da ordem econômica. E, tudo isso acontece com obsequioso silêncio da grande mídia, deixando claro seu desinteresse em reeditar sua participação de principal estimuladora de movimentos populares. A camuflada cumplicidade dessa grande mídia com o poder corrupto, um dia, pode acabar levando os dois para o mesmo buraco.
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