Em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) demonstrou descontentamento com a realização de uma etapa da Stock Car no entorno do Mineirão. Segundo servidores da instituição, o evento prejudicaria o funcionamento da faculdade, afetando as atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Após uma visita técnica à universidade, a deputada e presidente da comissão, Beatriz Cerqueira (PT), afirmou a necessidade da mudança de local do empreendimento devido a prejuízos ambientais, sociais e para o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Além disso, o deputado federal Rogério Correia (PT) e a deputada Bella Gonçalves (Psol) mencionaram a possibilidade de judicialização do evento.
“Nós temos hoje a gestão da Prefeitura de Belo Horizonte construindo um distanciamento progressivo do diálogo com a UFMG que é extremamente negativo para a cidade. Ao contrário da ideia de que é um evento que vai trazer um grande volume de recursos para BH, a gente está falando de um empreendimento econômico não licenciado, que não teve os estudos de impacto ambiental e de vizinhança, coisa que nós temos martelado nas nossas representações ao Ministério Público e aos demais órgãos. O campeonato causará prejuízos enormes no que se refere ao direito dos estudantes, mas também da comunidade, que é atendida pela UFMG, pela odontologia, pelo hospital veterinário e toda a pesquisa que é desenvolvida a partir do Biotério”, afirmou Bella.
A reitora da UFMG, Sandra Goulart, fala que a universidade não é contra a realização da corrida, mas o local não é adequado e a instituição foi desrespeitada ao não ter sido consultada. “Nos assusta muito a maneira como esse processo todo foi conduzido, sem ao menos ouvir a principal interessada que é a universidade. O Mineirão é um espaço que foi, historicamente, da UFMG, cedido para o estado, ali deveria ter sido um estádio universitário, e nós cedemos o local, entendendo sempre que deveria ser um ambiente compartilhado. Já recebemos cinco abaixo-assinados de associações diversas da região, justamente pedindo nosso apoio, que também são contra a realização desse evento naquela região”.
Quatro acessos da universidade serão bloqueados pelo empreendimento: o estacionamento que atende o Instituto de Ciências Biológicas, o Hospital Veterinário, o Centro Esportivo Universitário (CEU) e o Centro de Treinamento Esportivo (CTE). A reitora também ressaltou a importância de se investir em turismo sustentável e responsável.
O barulho dos carros pode afetar a sobrevivência dos animais residentes e internados nas localidades da faculdade, conforme lembrou a vice-diretora da Escola de Veterinária, Eliane Melo. “Acho que as pessoas não compreendem bem quando reforçamos o impacto do barulho nos animais, que podem vir a ter traumas, fraturas e convulsões. Estamos falando aqui do maior hospital das instituições federais de ensino superior. Nós temos atendimento de especialidades, como ortopedia, traumatologia, oftalmologia, oncologia, neurologia, odontologia, cardiologia, dermatologia, endocrinologia, entre outros. Além disso, realizamos pesquisas, temos projetos com órgãos de financiamento como Capes, CNPq e contratos com empresas privadas”.
É importante também lembrar que o Centro Esportivo Universitário (CEU) da UFMG recebe diariamente uma média de 300 pessoas, para atividades de lazer, ensino, pesquisa e extensão. E cerca de 600 atletas se preparam semanalmente no Centro de Treinamento Esportivo (CTE). E com a ocorrência da Stock Car, o espaço também seria prejudicado.
“No nosso caso, não é possível dar voltas, a entrada ao CEU é impossibilitada. E nós sequer sabemos o real impacto disso. Porque em nenhum momento recebemos qualquer tipo de informação sobre quais dias esse entorno do Mineirão vai ser impossibilitado. As notícias mais recentes que temos é que seriam cerca de 19 dias seguidos na época do evento”, afirmou Luciano Silva, diretor do CEU.
“É importante considerar que o CTE recebe alunos da Escola de Educação Física, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Medicina, ou seja, vamos ter que reorganizar toda a estrutura de ensino, pesquisa e extensão por 19 dias sem qualquer planejamento prévio, visto que não fomos comunicados, além dos atletas olímpicos que treinam no espaço também serão prejudicados”, ressaltou Maicon Albuquerque, diretor do CTE.