É muito complicado para quem não é economista, administrador de empresas ou mágico, querer entender a engenharia financeira que movimenta o futebol, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar. São números fantásticos, valores fabulosos, coisa de deixar o Tio Patinhas babando. O mais intrigante é que a receita nunca cobre as despesas. A cada balanço a dívida cresce. Mesmo assim, os gastos com contratações, altos salários e demais investimentos continuam subindo em disparada alucinante.
Segundo estudo realizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por intermédio de parceria com a EY, empresa de consultoria, o futebol brasileiro movimentou R$ 53 bilhões em 2019. Os dados ainda não foram atualizados. De acordo com a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), o futebol movimenta cerca de 286 milhões de dólares em receita global com direitos de transmissão, patrocínios, bilheteria e outros meios de faturamento. É muito dinheiro, acredito que devidamente contabilizado. O que rola por fora ninguém viu e nem vai ver.
No entorno do futebol também rola muita grana. As casas de apostas que invadiram o Brasil movimentam cerca de R$ 12 bilhões por ano. Segundo o próprio governo federal, que ainda tenta regulamentar o negócio. Enquanto isso, o bolo só cresce e a cada dia surge uma nova empresa. Temos umas 500 operando por aí.
O incrível é observar tamanha movimentação de dinheiro, sempre na casa dos bilhões, e ao mesmo tempo saber que os times de futebol vivem atolados em dívidas. Os 20 maiores times do Brasil devem mais de R$ 12 bilhões, números que ainda não foram atualizados. Acrescentando os demais, que são a maioria, o total da dívida deve dobrar. Mesmo assim, os times não fecham o cofre. Investiram mais de R$ 1 bilhão em contratações. Os dez maiores gastam cerca de R$ 6 bilhões anuais com a folha de pagamento.
Dizem os mestres da matéria que o importante é o patrimônio. Temos que acreditar. Segundo levantamento realizado pela “Pluri Consultoria”, os 20 times mais valiosos do Brasil valem cerca de R$ 7,3 bilhões. Isso é somente o gasto com os elencos, sem somar outros patrimônios. É muito bilhão para uma cabeça pensante. Melhor deixar tudo por conta dos computadores ou quem sabe da tal inteligência artificial.
Evidente que o futebol é uma grande indústria. Gera receitas, emprega muita gente de forma direta e indireta, promove o entretenimento, divulga as cidades, atrai viajantes, turistas, movimenta o comércio, a prestação de serviços e muito mais.
Para tentar organizar melhor ou no mínimo equilibrar as contas dos times de futebol, autoridades, empresários e dirigentes vem tentando, ao longo do tempo, encontrar alguma fórmula mágica. Achar o tesouro debaixo do arco-íris.
Começou como associação, mas não vem dando muito certo. Tentaram transformar tudo em empresa ou vice-versa e também não funcionou bem. A maioria abandonou o projeto no meio do caminho, deixando mais problemas do que soluções. Recentemente, surgiu a Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Uma forma de separar o joio do trigo. Alguém compra a parte do futebol, os demais ficam com a associação. O patrimônio bom vai para a SAF, o que sobra fica com a associação. O futebol tem um dono. A associação tem presidente, diretores, conselheiros e sócios. Entendeu?
É uma mistura jurídica e econômica para tentar resolver o problema da dívida e ao mesmo tempo montar um elenco forte para ser campeão. Na teoria é a melhor receita de sucesso, mas, na prática, vamos esperar e torcer para que tudo dê certo. A SAF, devidamente legalizada, pode ser a única saída para uma sobrevida longa e saudável dos times, desde que com pessoas sérias no comando. Não é um milagre. Depende de trabalho forte, competente e ético.
Para aliviar um pouco mais a situação, a reforma tributária que está sendo estudada e votada no Senado Federal deve beneficiar os times de futebol. A ideia é unificar o pagamento de imposto a uma alíquota máxima de até 5% da receita mensal nos primeiros cinco anos. Realmente, não é fácil entender tantos números, projetos e leis. O que interessa mesmo a todos os leigos é ver seu time bem, dentro e fora de campo, jogando muita bola e faturando muita grana.