Um dos símbolos do período da mineração no Brasil, o caminho da Estrada Real, foi reconhecido como monumento nacional. A norma teve origem no Projeto de Lei (PL) do deputado federal Reginaldo Lopes (PT) e foi sancionada pelo presidente Lula (PT) no final de outubro. A Estrada tem mais de 1.630 quilômetros de extensão e passa pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

O Estado mineiro abriga grande parte das cidades do percurso, com 169 dos 199 municípios ou distritos integrantes da Estrada Real. Segundo a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), a iniciativa contribui para resgatar e divulgar tradições, valorizar a identidade regional e incentivar o empreendedorismo.

A presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), Marília Palhares Machado, diz que um bem cultural declarado monumento nacional passa a ser objeto de interesse público para a nação. “O que abre portas para investimentos, além de atrair o interesse pela conservação, potencializando seu uso em benefício da sociedade e da geração de emprego e renda por meio do turismo, tendo a sustentabilidade como resultado. O rico patrimônio cultural mineiro fica ampliado e mais fortalecido”.

“As cidades que se encontram às margens da Estrada Real serão postas em evidência, com seu potencial turístico incrementado, em um Estado que vem tendo o crescimento no setor muito acima da média nacional. Sua conservação deverá ser pensada tendo como foco tanto os valores materiais quanto imateriais e espirituais do passado, incluindo a relação entre os municípios e das peculiaridades de cada uma entre seu meio construído e o meio natural que a cerca, evidenciando a ligação de todas com a formação da Estrada como um patrimônio comum”, complementa Marília.

Histórico

A Estrada Real remonta à época do Brasil colonial, em meados do século 18, tendo seu percurso criado pela Coroa Portuguesa para oficializar e facilitar o escoamento de ouro e diamante de Minas para os portos do Rio de Janeiro. A própria expansão social e econômica do Estado mineiro está intimamente ligada à Estrada, um caminho onde vilarejos e distritos, que depois viraram cidades de diferentes portes, se formaram em torno dela.

Ela se divide em quatro grandes trajetos. Caminhos dos Diamantes, que tinha a intenção de conectar a sede da Capitania, Ouro Preto, a principal cidade de exploração de diamantes, Diamantina. Caminho Velho, foi o primeiro trajeto determinado pela Coroa Portuguesa e liga Ouro Preto a Paraty/RJ. Caminho Novo, criado para servir como uma rota mais segura ao porto do Rio de Janeiro. E Caminho do Sabarabuçu, um acesso alternativo entre Ouro Preto e Barão de Cocais.

Patrimônio

Nos quatro grandes caminhos da Estrada Real existem por volta de 40 bens tombados pelo Iepha, situados em 21 municípios mineiros. Os tombamentos estaduais encontrados ao longo desse trajeto são protegidos desde a década de 1980. Além disso, dos quatro sítios mineiros reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), três estão na Estrada Real: o acervo arquitetônico e artístico do centro histórico de Ouro Preto, o centro histórico de Diamantina e o Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas. De acordo com a Secult, Minas Gerais abriga mais de 60% do patrimônio histórico do país.

Turismo

Marcus Vinicius Januário, gestor do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, que é formado por 26 municípios, explica que interligar o Circuito com a Estrada Real é bem tranquilo. “Temos uma parte que é bastante privilegiada, pois somos cortados por dois caminhos da Estrada, o trajeto Novo e o Velho. Então, boa parte dos turistas que fazem a rota vão passar por nossas cidades. Assim, a gente trabalha a promoção dos roteiros, com ações de conservação e divulgação de todo o potencial turístico que os dois caminhos trazem”.

Ele destaca ainda que os turistas vão encontrar na Estrada Real uma rica gastronomia local. “Diversos pratos, como pão de queijo, doce de leite, rocambole, café, biscoito, entre outros. E também tem a natureza, uma grande quantidade de cachoeiras ao longo da Estrada, além dos parques, as paisagens de montanhas, que só tem em Minas e o acervo histórico”