Em pleno processo constituinte, o andamento dos trabalhos emperrou e o então presidente da República José Sarney entrou em cena. O tradicional na política acontecia, PMDB pressionava por cargos, emendas e poder no governo. O grupo do presidente recuou diante do exagero das exigências. A situação piorou. De 6 anos, o mandato de Sarney passaria para 4 e seria aprovado o sistema parlamentarista com o fim do decreto-lei, sem a possibilidade de medida provisória. “O País vai ficar ingovernável”, bradou o então presidente que até então ficava distante da Constituinte em respeito ao poderoso Ulysses Guimarães. O líder do governo era o deputado por São Paulo Roberto Cardoso Alves que bradou no plenário em busca de votos para o governo: “Vamos votar o projeto! É dando que se recebe”, estava cunhada a frase da bonita oração de São Francisco transplantada para a política. Foi criado o Centrão.
O grupo reuniu deputados e senadores liberais e verdadeiramente salvaram a Constituição que estava perdida em tendências de esquerda. Pode acreditar, era muito socialista. Para se ter uma ideia as propriedades rurais seriam meras concessões com função social. Direitos trabalhistas impeditivos com estabilidade parcial e restrições pesadas aos investimentos. Além de alinhamento com países socialistas. Os empresários acordaram. Antes, o lobby era de grupos organizados em associações, sindicatos e iniciativas sociais que lotavam o Congresso. Os investidores e representantes da economia não estavam devidamente organizados para a contrapressão. O constituinte Afif Domingos, o líder Ricardo Fiúza e mais duas centenas de representantes entraram em cena. Foi um processo forte que mudou em pouco tempo a tendência e venceu Ulysses Guimarães que além de presidente da Câmara, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, era o presidente do PMDB e estava do lado do MUP, Movimento de Unidade Progressista do partido. Esse pessoal saiu e fundou o PSDB.
O debate volta agora 35 anos depois, o Centrão entra em cena para equilibrar o Congresso e fazer a média entre os radicais de direita, que votam contra tudo que é proposta de governo e os esquerdistas que consideram donos de um governo de esquerda. A novidade é que o Centrão oficialmente não existe e ninguém assume fazer parte dele diante do desgaste da imagem. A famosa oração voltou, Lula mentalmente fala para a política: “É dando que se recebe!”. Como boa vontade por aqui tem preço, o grupo aprovou a Reforma Tributária, mudanças no Carf e estão engatilhados para votar o arcabouço fiscal. Estes passos é que fazem o governo trocar ministros aqui na Esplanada. Esta pauta econômica garante arrecadação extra de mais de R$ 160 bilhões. Mas não é só dinheiro, o presidente Lula e aliados estão em busca de estabilidade e principalmente um seguro contra uma possível aventura chamada impeachment.