Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou alta de 2,4% de abril para maio deste ano. Entre os sete componentes da ICF, os maiores avanços foram na avaliação sobre o momento atual em relação à compra de bens duráveis (5,5%) e no nível de consumo (3,4%).
A renda atual teve alta de 2,9%, o indicador chegou ao maior nível (115,3 pontos) desde maio de 2015. Cerca de 36,5% dos consumidores consideram sua renda melhor do que há um ano, a maior desde março de 2020. Os outros componentes tiveram as seguintes altas, emprego atual (1,6%), perspectiva profissional (1,2%) e acesso ao crédito (0,8%).
Conforme o presidente da CNC, José Roberto Tadros, diversos fatores auxiliaram a elevação. “Houve crescimento de todos os indicadores nas comparações mensal e anual, especialmente por conta das sucessivas quedas da inflação, o que tem deixado as pessoas mais dispostas a consumir. Como o mercado de trabalho segue apontando alta das contratações formais, mesmo que em menor intensidade do que no ano passado, essa pode ser uma tendência para os próximos meses, apesar do endividamento dos consumidores em nível elevado e os juros altos limitarem os efeitos benéficos da maior renda disponível ao consumo”.
Para o economista Gelton Pinto Coelho, existe uma enorme demanda reprimida de consumo nos últimos anos, principalmente em relação às classes de menor poder aquisitivo. “No primeiro momento, a recomposição do programa Bolsa Família e as negociações salariais podem ter provocado um pequeno aumento da renda, o que significa muito para o consumo dessas famílias. Há um otimismo em relação às possibilidades de melhora da economia brasileira, com maior integração ao mercado internacional e também à recomposição do orçamento público. Creio que a tendência de alta pode se confirmar nos próximos meses”.
Inflação mais baixa
A evolução da inflação em abril mostrou desaceleração novamente, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) anual alcançou 4,18%, dentro do intervalo da meta do Banco Central (4,75%) pelo segundo mês. Além disso, a inflação dos produtos de alimentação e bebidas, itens que mais pesam no orçamento das famílias de renda menor, desacelerou, com alta de 1,52% neste ano.
De acordo com a CNC, a intenção de consumir novamente avançou nas duas faixas de renda, em maio. A maior pretensão de compra entre os mais pobres está relacionada à melhora da avaliação da renda por esse grupo. Tanto no mês quanto no ano, a percepção de que o dinheiro está comprando mais cresceu em maior intensidade entre os consumidores de rendas média e baixa (3,1% e 31,2%, respectivamente).
Impacto na economia
Coelho esclarece que os dados são positivos e melhores do que as previsões realizadas no ano passado. “O consumo das classes D e E vai gerar ganhos de escala, como já ocorreu antes na economia brasileira. Isso realinhará os modelos de negócio e as possibilidades de transbordamento da renda. Com a redução da inflação e a diminuição dos preços dos combustíveis, pode haver também crescimento da qualidade dos empregos e ampliação da renda de forma mais consolidada”.
Já os comerciantes, segundo o economista, vêm sofrendo impacto nos últimos anos, inclusive com mudanças sazonais do emprego e da renda. “Antes das reformas trabalhistas havia uma ampliação do consumo nos meses finais do ano. Hoje, com a antecipação do 13º salário e da diminuição do número de pessoas com empregos estáveis, é possível o deslocamento da oferta e da demanda. É provável que o resultado das vendas seja melhor em junho e julho do que foi no final do ano passado”.