O debate sobre relacionamento abusivo veio à tona novamente no reality show Big Brother Brasil (BBB), exibido pela TV Globo. O apresentador da atração, Tadeu Schmidt, chamou a atenção para a relação tóxica dos participantes Gabriel Fop e Bruna Griphao. O alerta veio depois de várias declarações agressivas do modelo de 24 anos, que despertaram acusações de abuso psicológico nas redes sociais. Em um dos episódios, após Bruna dizer que era o “homem da relação”, ele respondeu de forma hostil: “Mas já já você vai tomar umas cotoveladas na boca”.
A especialista em terapia cognitivo comportamental e para casais, Rafaela Gonçalves, afirma que a maioria das pessoas têm o entendimento que um relacionamento só é abusivo quando há agressões físicas. “Geralmente, começa com o controle do comportamento, ofensas verbais e humilhações. Aos poucos, a situação vai ficando cada vez mais grave. O abusador, então, se aprofunda nas críticas à parceira, terminando em agressão física, violência moral, psicológica e às vezes sexual. Isso acaba virando um ciclo dentro da relação afetiva”.
Rafaela conta que a manipulação da vítima é a principal forma de fazer com que ela não perceba a condição. “A pessoa abusada pode ficar chateada com tantas humilhações. Porém, quando o agressor identifica isso, ele pede desculpas e diz que não vai mais acontecer, além de prometer mudar sua postura. Isso faz com que ela se sinta culpada e continue o relacionamento”.
Os sinais que podem ser notados em um relacionamento tóxico são diversos. “É visível a presença de pelo menos um destes tipos de violência: verbal, emocional, psicológica, física, sexual, financeira e tecnológica. Esta última vai desde controle velado das redes sociais da vítima até insistência em obter senhas pessoais, gestão das conversas, curtidas e amizades on-line. Para caracterizá-lo, são levados em conta fatores, como o sofrimento causado em uma pessoa, a frequência dos abusos, ciclos de agressão e escalonamento da violência”, explica a terapeuta.
Ainda segundo ela, não apenas os relacionamentos românticos podem ter características abusivas. “Também acontece em outras configurações, como nas famílias, amizades e entre alguns chefes e funcionários”.
Superação
A publicitária M. S.* conta que viveu uma relação tóxica por 8 meses com seu ex-namorado. “Sair dessa situação foi muito difícil. No começo, ele era gentil, educado e me tratava bem. Depois de um mês de namoro, a pessoa se mostrou ciumenta em excesso, não gostava dos meus amigos homens e parecia não querer escutar quando eu falava dos planos que envolviam minha carreira”.
Ela lembra que após um tempo, o namorado começou a ficar extremamente controlador e agressivo. “Não fazia questão de conhecer meus colegas, tentou me afastar deles e até mesmo da minha família. Quando ficava bêbado e nos desentendíamos, apresentava comportamentos mais violentos, como a vez que jogou um copo na minha direção. Naquele dia tive certeza que precisava sair dessa relação. Tinha certa vergonha de contar para alguém ou pedir ajuda”.
Rafaela elucida que a busca por apoio profissional é essencial. “Apenas por meio do acolhimento, autoconhecimento e fortalecimento emocional será possível reforçar a autoconfiança e reunir a força necessária para a tomada de decisões e imposição de limites. Além do empoderamento, falar sobre as questões que envolvem a escolha do parceiro, refletir sobre a manifestação dos primeiros sinais de violência, também permite prevenir o início de relacionamentos tóxicos”, finaliza.
*O nome foi preservado a pedido da fonte
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no primeiro semestre de 2022, média de quatro casos por dia. Este número é 3,2% maior que o total registrado de janeiro a junho de 2021, quando 677 mulheres foram mortas.