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Youtubers mirins: qual é o limite da exposição on-line?

Crédito: Freepik.com

As crianças estão cada vez mais em contato com a tecnologia e parecem nascer sabendo manusear computadores, celulares e gravar vídeos. Nesse cenário, a nova geração não tem se contentado em ser apenas espectador, mas também deseja produzir seus próprios conteúdos e compartilhar na internet. Os chamados “youtubers mirins” fazem grande sucesso com seus canais sobre os mais diversos assuntos, como viagens, culinária, livros, jogos, brinquedos e novelas infantis.

Alguns possuem milhares de visualizações e seguidores e faturam um bom dinheiro com os vídeos publicados. Isso desperta a atenção de especialistas, afinal, o mundo virtual tem seus riscos. Sobre este assunto, o Edição do Brasil conversou com Amanda Soares, pediatra especialista em desenvolvimento infantil.

 

Como você avalia a geração de youtubers mirins?

É a necessidade de buscar ser uma celebridade que acontece cada vez mais cedo. E com a tecnologia disponível, as crianças de hoje também têm desenvolvido habilidades diferentes das de antigamente. Existem aquelas comunicativas, desenvoltas e inteligentes, que demonstram interesse específico pela comunicação desde pequenos, mas são poucos os casos. Normalmente, a maioria tem uma grande influência dos pais que projetam seu desejo de vida não realizado em seus filhos. Há casos em que os responsáveis têm medo de frustrarem os pequenos e permitem que eles criem seus canais na plataforma.

O que os pais ou responsáveis precisam ficar de olho? Como eles devem supervisionar?

A atividade das crianças na internet deve ser sempre monitorada. É um mundo muito perigoso, ainda mais com essa exposição toda. Elas não têm maturidade para lidar com críticas. Por isso, os pais devem supervisionar o tema do vídeo, fazer pesquisa e estar atualizados o tempo todo. Precisam verificar comentários recebidos e orientar o filho quanto a responder ou não essas mensagens, pois existem os haters que ficam provocando propositalmente. Hoje, os youtubers adultos sofrem com esse problema e chegam a ficar em depressão, imagina como os pequenos não devem se sentir.

Qual seria o limite de utilização?

A criança tem que estar em contato com a natureza, animais, brincar com amigos, interagir de forma presencial e não virtual. Também não pode de forma alguma deixar de fazer outras tarefas, nem afetar o rendimento escolar. Para aqueles meninos e meninas que já têm o dom, se dedicar a esta atividade de uma a duas horas por dia, desde a pesquisa, gravação, postagem e respostas aos comentários é suficiente. Os pais devem estar à disposição para fazer toda a supervisão e auxiliar. Para as demais, o conteúdo deve ser compartilhado apenas em seu círculo de amizades e na família.

Como lidar com as frustrações, críticas e comentários negativos?

Críticas e comentários negativos são o que mais vemos na internet hoje em dia. O melhor modo de lidar com isso é não se expondo. No entanto, mesmo que a criança não responda, o que é o recomendável, ela lê e entende como uma desaprovação ou uma rejeição e até mesmo uma incapacidade. As frustrações serão inevitáveis. Se os pais não querem que o filho corra o risco é melhor não estar no YouTube.

A fama, elogios, milhares de comentários e visualizações podem virar problemas?

O limite entre o que é comum e o patológico é muito tênue. Com o ego no alto, a criança pode correr o risco de desenvolver um transtorno de personalidade narcisista. O grande problema é que o sucesso tem seu tempo de duração. Em alguns casos, a fama pode acabar e levar a pessoa a desenvolver uma depressão.

Como a criança deve lidar com dinheiro?

É uma questão da educação financeira. Separar uma quantia que será dedicada à família e uma porcentagem que será usada para investimento. É preciso ter uma planilha dos gastos, incluindo lazer e necessidades básicas. A criança precisa aprender a poupar e pode ser uma oportunidade de ela aprender a lidar com o dinheiro. Mas existe uma questão importante que é o fato do trabalho infantil ser proibido, como esse youtuber mirim pode receber para fazer vídeos? Tudo é relativamente novo e precisa passar por uma discussão.

A exposição à internet pode influenciar no consumismo?

Antigamente, as crianças criavam seus brinquedos e suas brincadeiras. Com essa influência da mídia, ela perde seu papel de criador e adquire o papel de consumidor. Hoje, meninos e meninas só usam marcas famosas, brinquedos e eletrônicos de última geração. Esses padrões de consumo são estimulados desde a infância e eu não vejo nada de saudável nisso.