O índice de aluguel de veículos no Brasil deu um salto de 33,5% em 2021. O faturamento bruto anual bateu recorde, chegando à casa de R$ 23,5 bilhões. Em 2020, esse número foi de R$ 17,6 bilhões, ainda sob o impacto das rígidas medidas de isolamento social causadas pela COVID-19. O crescimento da locação de automóveis no país chegou a 7,8% na comparação com o faturamento bruto verificado em 2019 (ano anterior ao início da pandemia).
No ano passado, foram registrados 50,1 milhões de usuários de aluguel de carros, ante 44,6 milhões em 2020, crescimento de 12,3%. A expansão também aconteceu em relação à frota total de automóveis e comerciais leves das locadoras. Apesar do cenário desfavorável à produção automotiva, o setor terminou 2021 com 1.136.517 veículos na frota, 12,8% a mais que em 2020 (1.007.221 unidades). As estatísticas da atividade fazem parte do novo Anuário Brasileiro do Setor de Locação de Veículos, produzido pela Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), a partir de dados do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO).
Para o presidente do Conselho Nacional da ABLA, Marco Nazaré, a volta da demanda de turistas em viagens de lazer ou de negócios tem muito a ver com esse crescimento. “Começaram também a surgir clientes que, antes de adquirir um novo carro, o alugam por alguns dias, como uma boa opção para conhecer o modelo desejado e, assim, observar de fato seu desempenho. Nesse sentido, nosso setor foi importante para gerar novos e mais clientes para as montadoras, principalmente para aquelas que disponibilizam rapidamente seus lançamentos para as locadoras de veículos. Além disso, também começaram a surgir clientes que locam automóveis enquanto seu carro próprio está parado por questões de mecânica ou funilaria, por exemplo”.
Para ele, a população tem percebido que o uso do carro alugado pode ser mais vantajoso do que a posse do veículo. “Ter um automóvel é ter um bem sujeito a depreciação, impostos, seguros e manutenção. Trata-se da compreensão de que o aluguel pode suprir a demanda, sem necessidade de a pessoa gastar um capital elevado para comprá-lo. Há, também, aqueles que durante a pandemia decidiram vender o carro que tinham que, na maior parte do tempo, ficava parado para cobrir outras necessidades, como as de moradia, saúde ou poupar diante da redução de renda”.
O contador Victor Gomes mudou sua percepção sobre o aluguel ao precisar fazer uma viagem quando estava sem carro. “Meu veículo apresentou alguns problemas e eu não tinha dinheiro para consertar na época. Eu e minha família tivemos uma oportunidade bacana de ir para a praia e decidi orçar o aluguel. Fiquei impressionado com o preço, muito em conta e eu ainda consegui um carro muito mais confortável que o meu”.
Passado e futuro
O presidente da ABLA explica que a locação de veículos foi afetada pelas restrições da pandemia, principalmente em abril e maio de 2020. “Logo no início, enfrentamos diversas situações que puseram à prova a resiliência das empresas. Além de questões recorrentes entre vários setores – como a manutenção da mão de obra, a dificuldade na tomada de crédito e a necessidade de renegociar contratos – as locadoras viram muitos carros serem devolvidos, a ponto de terem seus pátios lotados; a repentina estagnação do mercado de locação para motoristas de aplicativos, que vinha crescente; e ainda virtual paralisação do turismo e, consequentemente, da locação diária”.
A partir do segundo semestre de 2020, porém, o cenário começou a mudar. “Vieram os picos de recuperação da demanda pelo aluguel de veículos e a adaptação das empresas à nova realidade. Mas ainda é preciso equacionar uma série de fatores, começando pela falta de automóveis zero quilômetro no mercado para podermos renovar nossa frota, em função da dificuldade da indústria automotiva em contar com peças como os semicondutores para produção”.
Para este ano, existe um indicador de que o mercado de aluguel de carros cresça, principalmente para alugar carros para pequenas e médias empresas dos mais variados setores. “Elas, cada vez mais, passam a estudar com mais atenção e a considerar a possibilidade de vender seus veículos e migrar para o aluguel de frotas. Assim, o capital, antes investido na compra, pode ser utilizado em benefício da atividade fim da empresa”.
O empresário Antônio Ucelli foi um dos que optou por alugar um veículo para levar e buscar seus funcionários em casa. “Minha empresa é pequena, somos 7 funcionários. Com a pandemia, passei a pagar uber ou gasolina para todo mundo, pois acredito ser mais seguro. Mas, após um tempo, eu e meus sócios sentamos para pôr no papel a viabilidade de alugar um carro maior para levar e buscar nossa equipe. E está dando certo. Tem sido mais rentável e prático para a gente. Por enquanto, sou eu quem dirijo, mas quero contratar um motorista para fazer isso”.