Drummond, decepcionado com o “Triste Horizonte”, nunca mais voltou à cidade que o acolheu e onde viveu boa parte de sua vida. Foi a forma que encontrou de protestar contra os que mutilaram a sua amada Belo Horizonte. Aliás, é dele também o verso de que “Minas não há mais”, no seu famoso “E agora, José?”.
O fato é que nossa Minas, dos vales e montanhas, tão orgulhosa, de povo sábio, modesto e cheio das simulações e dissimulações, tem passado por décadas de ausência no cenário político nacional. O que nos aconteceu? Perdemos o jeito, a manha, a paciência, a modéstia e a raposice política? Perdemos a embocadura?
Em princípio o político é filho da prática do ofício, guiado por predecessor de velha e boa cepa, líder de um tempo e respeitado pelas suas posições do entendimento e diálogo. Não são feitos em academias, mas nelas podem começar a boa prática. Ter paciência e gosto são matérias primas essenciais à sua formação.
Liderar é conquistar adeptos pela legitimidade das ações e coerência de atos, além do carisma e obstinação pela busca do poder. É saber dividir e partilhar quando o exerce, criando sucessores e parceiros para a longa jornada.
Para exemplificar basta citar, de nossa recente história, Benedito Valadares, Magalhães Pinto, Tancredo Neves e Hélio Garcia. Dois udenistas e dois pessedistas, talvez os últimos políticos “raposas felpudas” merecedores da nossa tradição de mineiridade, qualidade tão escassa. Cabem aqui, com todas as honras, homens como Juscelino Kubitscheck, José Maria Alkmin, Milton Campos, Renato Azeredo e tantos outros de igual naipe.
O fato é que perdemos o laboratório da formação destes líderes, seja pelos novos tempos ou pela falta de atualização com as novas ferramentas de comunicação. Ou pior, pela falta de visão dos detentores do poder político em saber dividi-lo e formar aqueles que os sucedam e os eleve.
Deixamos de ocupar espaço na república, o que tem feito muita falta ao país, pela nossa incapacidade de gerar, nas Minas Gerais, nomes que sejam respeitados, como no passado, pelos brasileiros.
Afinal, nossa tradição e herança cívica nos cobram, para Minas e o Brasil, que nossos homens públicos, políticos na perfeita acepção da palavra, ocupem seus lugares como no passado. Problemas não nos faltam, sociais, econômicos e de toda ordem, o que nos tem faltado são soluções e boa gestão política. Nosso maior problema é a ausência dos líderes de Minas, a que haverá sempre.
“Estamos sem discurso, o bonde não veio, não veio a utopia e tudo fugiu. Vamos esperar o cavalo preto, que nos leve a galope. Para onde, José? ”
*Nestor Oliveira
Jornalista