O primeiro mês é dedicado à campanha “Janeiro Branco”, que tem o objetivo de chamar atenção para o tema da saúde mental e emocional na vida das pessoas. “O começo do ano pode ser considerado como uma página em branco, onde pode ser reescrita uma história. Buscar oportunidades de fazer diferente, recomeçar e obter novos estilos de vida. Já o branco remete à inspiração e criatividade. É um momento de refletir, gerar conscientização e combater tabus”, explica a psicóloga Larissa Assis.
No entanto, o assunto saúde mental ainda é um desafio. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), ao menos 18,6 milhões de brasileiros, cerca de 9% dos cidadãos, sofrem de algum transtorno de ansiedade. Ocupamos o primeiro lugar no ranking quando a questão é a prevalência de casos dessa patologia. O Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, equivalente a 5,8% da população, atrás apenas dos Estados Unidos, com 5,9%.
Para Larissa, a saúde mental não é completamente compreendida e se torna alvo de muitos estigmas e preconceitos herdados de décadas passadas. “O bem- -estar mental pode ser abalado por diversos fatores, como rápidas mudanças sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável, violência e violação dos direitos humanos”, salienta.
Ainda de acordo com a psicóloga, o início da pandemia de COVID-19 fez surgir mais problemas psicológicos. “Todo mundo teve que lidar com o isolamento, medo de ser contaminado, além da imprevisibilidade da situação. Isso tudo causa um impacto na mente, desorganiza a vida e aumenta o risco de desenvolver transtornos. É importante buscar ajuda sempre que necessário para lidar com as emoções e sentimentos da melhor maneira possível”.
Na avaliação da psicóloga e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Camilla Machado, o preconceito com quem sofre de algum tipo de doença mental precisa ser combatido. “Chamamos popularmente de psicofobia. Fazer piadinhas com isso não é nada legal. Ao dizer que uma pessoa é ‘doida’ ou ‘louca’, falar frases como ‘depressão não é doença, é preguiça’, demonstra que ainda somos carentes de informação”, alerta.
Ela chama atenção que muitos pacientes, por vergonha da doença ou até mesmo das medicações, deixam de buscar tratamento adequado. “É como se a doença fosse o aspecto central da sua identidade. Infelizmente, isso pode piorar o quadro, levando a um maior risco de suicídio. O estigma, associado à falta de informação e desassistência, mata. A pessoa enxerga como única solução atentar contra a própria vida”.
Segundo Camilla, a forma mais viável de combater o preconceito às pessoas com transtornos mentais é a disseminação da informação correta e de boa qualidade. “A campanha Janeiro Branco vem para reforçar os cuidados com a saúde mental e acabar com essa intolerância. Toda a sociedade pode contribuir para a criação de uma comunidade mais inclusiva. É necessário ter respeito e compreender a complexidade da doença mental”.
Vencendo a ansiedade
João Mendes convive com transtorno de ansiedade generalizada há 5 anos. “Comecei ter dificuldades para dormir, falta de ar, me sentia mal com frequência em diversas situações, taquicardia, boca seca, não conseguia me concentrar nem raciocinar. Fiz diversos exames e não tinha nada. Até que fui ao psiquiatra e recebi o diagnóstico. Desde então, venho fazendo terapia e uso de medicamentos”, relata.
Ele já sente uma melhora significativa. “Atrapalhava bastante a minha vida. Queria resolver tudo na hora e as pessoas não conseguiam me entender e acompanhar meu ritmo. No final das contas era taxado de neurótico. Você não deixa de ter o transtorno de uma hora para outra. Hoje, consigo lidar com mais tranquilidade com as coisas que acontecem. Não podemos ter vergonha de falar sobre isso e de buscar ajuda para resolver o assunto”.