Mesmo com diversas campanhas abordando sobre a proteção dos recursos naturais e dos impactos ambientais gerados pela produção desenfreada de lixo, o Brasil ainda caminha a passos lentos quando o assunto é reciclagem. De acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o país gerou 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos no último ano. Deste total, somente 3% foram de fato reciclados. Para falar desse assunto, o Edição do Brasil conversou com Gabriela Otero, coordenadora técnica da Abrelpe.
Como está o panorama do Brasil em relação à reciclagem?
O país está demorando a avançar neste tema. Nosso último dado aponta para produção de 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Cada brasileiro produz, em média, 387kg de lixo por ano. Essa geração não estabilizou e vem crescendo ao longo do tempo. Deste total coletado, e que tem algum aproveitamento, apenas 3% foram efetivamente reciclados. São os resíduos secos, ou seja, materiais como papel, embalagens, vidro, papelão e plástico.
A quantidade reciclada poderia ser maior?
Sem dúvida alguma. Nós não temos uma pesquisa formal sobre o tema para afirmar qual a porcentagem, mas se tivéssemos eficiência, políticas públicas, estímulo de impostos e mais consciência da população, teríamos o mínimo possível descartado em aterros sanitários. A grande questão é ter o caminho correto desde o cidadão até as indústrias que precisam fazer sua parte.
Qual é o perfil do resíduo produzido no país?
Metade dos materiais produzidos são restos de alimentos, o que chamamos de fração orgânica. São sobras de frutas, legumes, verduras e comida preparada. Cerca de 30% é a fração seca, como embalagens, vidro, papel, plástico, papelão, entre outros. O restante são rejeitos que ainda não tem viabilidade econômica e técnica para reciclar ou reaproveitar. São restos de tecidos, madeira e resíduos de banheiro.
Como realizar o processo?
O primeiro passo é se informar do dia e horário da coleta seletiva no seu bairro. Caso não tenha esse serviço, o ideal é procurar onde tem um ponto de entrega voluntária da prefeitura ou até mesmo de uma cooperativa para levar os itens recicláveis. O correto é separar em dois sacos, sendo um para resíduos orgânicos e lixo não aproveitável e outro para os materiais secos.
Como a reciclagem ajuda as empresas?
Ela beneficia toda a sociedade. As empresas quando são geradoras de embalagens e fazem o retorno do material para a cadeia produtiva ganham reconhecimento social e ambiental. Por outro lado, quando são apenas geradoras precisam fazer a gestão adequada do lixo. A vantagem é estar em conformidade com as leis.
Quais os prejuízos que os lixões podem causar para a população?
A estimativa é que ainda existam cerca de 3 mil lixões ou aterros irregulares espalhados pelo Brasil. Os resíduos depositados diretamente no solo e de forma inadequada causam problemas ambientais e de saúde pública. Diante desse quadro, podemos destacar a contaminação da terra pelo chorume, poluição das águas subterrâneas, mau cheiro por causa da decomposição do lixo e aumento dos casos de doenças, pois os detritos atraem ratos, baratas e moscas.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) previa o fim dos lixões até 2014. Por que a meta nunca foi alcançada?
Na verdade, os lixões são proibidos desde a Lei nº 9.605/98, que considerou crime ambiental lançar resíduos sólidos nos aterros em desacordo com as exigências estipuladas em normas ou regulamentos. Inclusive, estabelecia as penas de reclusão e multa em caso de descumprimento. A PNRS (Lei nº 12.305/2010) não trata expressamente do encerramento de lixões. Ela veio regulamentar e determinar prioridades no tratamento de resíduos, indicando que não basta coletar, sendo preciso também a gestão do material. Antes de chegar ao aterro, é preciso valorizar a reciclagem e compostagem. Fazendo corretamente a lição, em poucos anos aconteceria o fim dos lixões, o que não ocorreu. Após ter se esgotado o prazo estabelecido pela PNRS, apenas 35% dos 5.570 municípios brasileiros possuíam um plano de gestão integrada e de gerenciamento de resíduos sólidos.