A torcida do Atlético Mineiro já mostrou que é uma das mais apaixonadas do país, uma vez que acompanha o time nos seus altos e baixos. E, após 50 anos de espera, no dia 2 de dezembro, o Galo foi consagrado campeão brasileiro com uma campanha espetacular. Foram 25 vitórias em 36 rodadas. O time marcou 57 gols e sofreu apenas 25. Nesse meio tempo, o número de sócios-torcedores do clube subiu consideravelmente, somando mais de 120 mil pessoas. Essa parceria entre time e torcida trouxe a tão sonhada taça.
A última vez que o Atlético ganhou o Campeonato Brasileiro foi em 1971. De lá pra cá, vimos a queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética, o ataque às Torres Gêmeas e, aqui no país, o movimento Diretas Já, por exemplo. Para muitos, parecia que esse dia não ia chegar. O time bateu inúmeras vezes na trave, ficando cinco vezes como vice na tabela e outras 12 no top 4. Agora, porém, tudo se concretizou e o atleticano pôde, enfim, tirar esse grito preso na garganta: “é campeão!”.
Foi o que fez a confeiteira Silvania Rodrigues. Ela nasceu em 1971, pouco depois da conquista da primeira taça. Influenciada pelos pais, ambos atleticanos, acompanhou o clube em todas as fases, sem nunca cogitar abandoná-lo. Para ela, a conquista do Campeonato Brasileiro coloca o time em outro patamar. “Foi uma espera longa, mas não angustiante, pois nós amamos o Galo de coração. A luta pela taça só aumentou esse sentimento. Acredito que Minas Gerais também ganha com esse título, pois ele acaba valorizando o estado”.
Durante a partida, ela relata ter vivido um misto de sensações. “É até difícil descrever, misturam-se muitas coisas. Vontade de gritar, chorar e sorrir. Quando o jogo terminou, o desejo era de correr e exibir para todos que sou atleticana de coração e alma”.
Nem os imprevistos da vida fazem o atleticano abandonar o time. Prova disso é que o barbeiro Bráulio Reis precisou agir rápido para assistir ao jogo, já que faltou luz no bairro onde mora. “No primeiro tempo consegui acompanhar apenas pelo rádio. Já no segundo, fui para a casa de um colega no bairro vizinho e, no fim, deu tudo certo. A expectativa para essa partida vem de 6 rodadas. A cada disputa, o título ficava mais próximo e a ansiedade só crescia e, no dia 2 de dezembro, não foi diferente. A cabeça não parava e, agora, o sentimento é de gratidão, alívio e liberdade: saímos da fila. Quebramos o jejum”.
E o afeto pelo Atlético surge das maneiras mais distintas. Morando há pouco mais de um ano no Brasil, o engenheiro industrial Felipe Ostos é colombiano e se mudou para cá quando começou a se relacionar com uma mineira. O amor por ela fez brotar uma nova paixão: a de ser atleticano. “Em 2013, tomei conhecimento da grandeza do Galo. Eu acompanhava a carreira do Ronaldinho Gaúcho que, à época, jogava no clube. E na disputa da Libertadores ao fazer um gol, por motivos pessoais, ele caiu no choro. A forma como a torcida o abraçou e a maneira como o jogador admirava a massa atleticana me chamou a atenção”.
Passados alguns anos, quando veio ao país pela primeira vez, ele se juntou à família da esposa para ver o jogo. “Todos, com exceção da minha sogra, são atleticanos. Por isso, antes, quis conhecer melhor os times para saber para quem ia torcer. A partida que assistimos foi justamente um clássico mineiro. O Cruzeiro abriu o placar, entretanto, isso não abalou ninguém. Todo mundo continuou focado e torcendo. Quando o Atlético empatou, a vibração foi ainda maior”.
Ostos conta que, após isso, questionou o cunhado o motivo de serem tão apaixonados. “E ele me disse que o atleticano é assim, acompanha o time seja onde e como for. Pra mim, o Clube Atlético Mineiro representa a identidade de Minas: o mineiro quando sofre, não desiste. Pelo contrário, ergue o rosto e continua. É uma alegria celebrar esse título e espero que não seja preciso esperar tanto tempo pelo próximo. E sei que não será, afinal, o clube tem um elenco que se tornou referência em toda a América Latina”.