Muitos brasileiros não têm acesso fácil ao crédito quando desejam fazer uma compra parcelada ou não possuem uma reserva de emergência. A solução encontrada é recorrer aos familiares ou amigos. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Sebrae, aponta que 29% dos consumidores fizeram aquisições utilizando o nome de outra pessoa nos 12 meses anteriores ao estudo. No entanto, a atitude solidária pode trazer sérios prejuízos financeiros e constrangimentos.
Esse foi o caso do web designer Gustavo Cardoso. No final do ano passado, seu irmão pediu o cartão de crédito emprestado para fazer a compra de um smartphone. “O aparelho foi parcelado em 10 prestações, porém, quando a fatura chegou, fui cobrá-lo e ele disse que não tinha a quantia naquele mês. Entendi a situação e quitei a conta do meu próprio bolso. O valor das mensalidades chegava a quase R$ 300. Na segunda vez, o mesmo problema da falta de dinheiro. Fiquei furioso e nos desentendemos, pois eu não tinha mais como continuar pagando. Meu nome foi parar nos órgãos de proteção ao crédito e fiquei negativado. Recentemente, consegui fazer a negociação da dívida”, relata.
Para o presidente da CNDL, José César da Costa, pode ser difícil dizer não a um amigo ou familiar, principalmente quando se alega dificuldades financeiras. “Mas é possível ajudar indicando a renegociação de dívidas, a reorganização das finanças ou mesmo sugerindo a venda de algum bem. O artifício do empréstimo de nome pode gerar transtornos para ambas as partes, trazendo danos financeiros, emocionais e até mesmo abalando relações de amizade e parentesco”, destaca.
De acordo com o levantamento, a principal razão apontada para fazer compras em nome de outra pessoa foi o CPF negativado, mencionado por 23% dos entrevistados. Também se destacou o limite de cheque ou cartão estourado (23%), não aprovação de crédito (13%) e o fato de nunca ter tentado contratar crédito no próprio nome (13%).
Na hora de pedir o nome emprestado, o estudo revela ainda que as pessoas procuradas são aquelas do círculo de convivência. Os pais e cônjuges são os mais abordados, com 23% e 21%, respectivamente. Em seguida, aparecem outros familiares (20%) irmãos (17%) e amigos (14%).
A maioria dos consumidores (87%) respondeu que pagou ou tem quitado as parcelas em dia. No entanto, 16% liquidaram o valor após a data de vencimento da prestação de pelo menos alguma modalidade de crédito acessada por meio do nome de terceiros. Os motivos mencionados são perda do emprego (21%), redução da renda (20%), atraso ou não pagamento de salário (20%), esquecimento (18%), gastos excessivos (17%) e problemas de saúde (12%).
Houve casos de negativação da pessoa, situação citada por 12% daqueles que deixaram de pagar as mensalidades em dia. “Quem empresta o nome precisa entender a real necessidade do outro lado. Muitas vezes, a melhor ajuda é orientar esse amigo ou familiar a dar prioridade para o pagamento de dívidas em vez de estimular que a pessoa assuma mais compromissos, sem saber se ela terá condições de arcar com o pagamento mais para frente”, explica o presidente da CNDL.
Entre os produtos ou serviços comprados com o nome de terceiros, o mais citado foi as compras de supermercado (27%), seguidas dos eletrônicos (23%) itens de farmácia (21%) roupas, calçados e acessórios (21%), eletrodomésticos (14%), móveis (13%), entre outros artigos.
Na avaliação do economista e especialista em finanças Leandro Martins, quem empresta o nome para um terceiro realizar a compra de bem ou fazer empréstimo está assumindo o risco. “Mesmo que seja um familiar ou um grande amigo, caso a pessoa não consiga quitar a dívida será a sua reputação que estará com problemas. É preciso ficar atento e ser firme para dizer não. Existem casos que vão parar na Justiça e causam brigas entre parentes”, afirma.
Ainda segundo Martins, para não se comprometer de imediato, o indivíduo abordado pode dizer que consultará a família ou alguma outra pessoa antes de dar uma resposta. “Isso pode ajudar a contornar a situação. Também é importante conhecer a finalidade do dinheiro, que pode estar sendo usado em novas aquisições e não para emergências. Se decidir emprestar, uma alternativa é oferecer dinheiro em espécie em vez do cartão de crédito. O possível prejuízo será menor e evita que a dívida aumente por conta de juros ou gere negativação do CPF”, finaliza.