O medo da COVID-19 afastou as pessoas dos hospitais. Após quase 2 anos de pandemia, entretanto, grande parte dos homens ainda não retomou a rotina de prevenção ao câncer de próstata. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) compilou dados inéditos do Ministério da Saúde que mostram os impactos à saúde masculina neste período, sobretudo no que diz respeito ao diagnóstico precoce. A entidade faz o alerta: todos os indicadores de combate à doença estão em queda.
De acordo com o levantamento, as coletas de Antígeno Prostático Específico (PSA) – exame de sangue que detecta tecido prostático e biópsia, que, juntas ao exame de toque retal, diagnosticam a doença – diminuíram 27% e 21%, respectivamente. As consultas urológicas no Sistema Único de Saúde (SUS) caíram 33,5%, enquanto as internações de pacientes diagnosticados com a doença tiveram queda de 15,7%. O número de cirurgias para retirada do órgão também está 21,5% menor em comparação entre 2019 e 2020.
Em 2021, as consultas com urologista continuam baixas. Até julho, foram realizados 1.812.982 atendimentos. Em 2019, este número foi de 4.232.293. Em alguns estados, a queda do exame de biópsia da próstata entre 2019 e 2020 é alarmante: Acre (90%), Mato Grosso (69%) e Rio Grande do Norte (50%). Já o Rio de Janeiro apresenta declínio de 39% e Minas Gerais 31%. São Paulo e Distrito Federal tiveram baixo impacto, de 6% e 7%, respectivamente.
O urologista José Eduardo Tavora afirma que a negligência do homem em relação à saúde é um fator antigo já conhecido pelos especialistas. “As campanhas educativas também diminuíram e o homem precisa muito ser lembrado porque ele não tem a proatividade da mulher em relação à prevenção. Isso é grave, pois graças a uma literatura da medicina extensa, sabemos hoje que o diagnóstico precoce do câncer de próstata atinge uma taxa de cura acima de 95%. Portanto, quanto mais tarde, mais avançada a doença pode estar e a chance de cura e qualidade de vida caem proporcional ao tempo do tratamento”, diz.
Francisco Guerra, presidente da SBU mineira, destaca que o câncer de próstata é o segundo tipo mais frequente no homem, perdendo apenas para o de pele (não melanoma). “Para entendermos a importância disso, basta salientar algumas informações, como a ocorrência de um caso da doença a cada 8 minutos. Uma morte é registrada a cada 40 minutos, cerca de 25% dos pacientes morrem devido a enfermidade e 20% são diagnosticados em estágios avançados. Apesar desses dados, dois terços dos homens com idade acima de 40 anos não realizam o toque retal e a metade nunca realizou o PSA. Para isso há uma conjunção de fatores como a falta de cultura de priorizar a saúde, machismo, medo de sentir dor, receio de possível diagnóstico e desconhecimento”, explica.
O gerente de atendimento Humberto Rodrigues perdeu um irmão vítima da doença e sabe bem sobre a importância da prevenção. “Nunca havia feito o exame de próstata. Mas, depois da perda do meu irmão, não hesitei em marcar uma consulta com o médico urologista. Foi bem tranquilo, o toque retal é muito simples e dura poucos minutos. O médico especialista ainda pediu exame de rotina, como testosterona, urina e PSA, que são de praxe para o controle. Deu tudo certo”, conta.
Cuidados com a próstata
A próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga, por dentro dela se passa a uretra, canal por onde a urina percorre para ser expelida do corpo. Esse pequeno órgão, com formato de uma maçã, é responsável por produzir parte do sêmen, líquido liberado durante o ato sexual que contém os espermatozoides.
Homens negros têm maior predisposição à doença, além disso, envelhecimento, obesidade e histórico familiar em pai, irmão ou tio são fatores de risco. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em fase inicial, a doença avança silenciosamente. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da glândula, como dificuldade para fazer xixi e necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite. Na fase avançada, pode provocar dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal.
Apesar da palavra “câncer” assustar e remeter a tratamentos agressivos. A SBU esclarece que nem todo tipo necessita de cirurgia, quimioterapia e outros tratamentos e pode ser acompanhado através de exames preventivos.
A recomendação da SBU é que os homens, a partir de 50 anos, e mesmo sem apresentar sintomas, marquem uma consulta com um urologista para avaliação individual. Aqueles que pertencem ao grupo de risco devem começar seus exames a partir dos 45 anos.