A vontade de empreender nunca esteve tão em alta no Brasil como atualmente. O número de pessoas que ainda não têm um negócio, mas que desejam abrir uma empresa nos próximos 3 anos cresceu 75%, passando de 30% (2019), para 53% (2020) e atingindo o patamar de 50 milhões de brasileiros. É o que aponta o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado com apoio do Sebrae, em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ). Pela primeira vez, o estudo também identificou que ter uma empresa é o segundo maior sonho da população brasileira.
Mesmo após momentos críticos que os empreendedores viveram, devido às medidas de contenção ao novo coronavírus, curiosamente, o que motivou um terço dos entrevistados a empreenderem foi justamente a pandemia da COVID-19. “O Brasil teve a maior variação da taxa de Empreendedorismo Potencial quando comparado com outras economias, ou seja, foi aqui que a crise sanitária serviu para incentivar o empreendedorismo”, ressalta a analista do Sebrae Minas, Gabriela Martinez.
O que diz quem já empreende
Abrir um negócio próprio é uma tomada de decisão complexa, mas recompensadora, garante a publicitária Nicole Pappon. Com apenas 23 anos, ela fundou, em 2020, sua própria assessoria de influenciadores digitais, que já atende 25 clientes. “Criei uma boa rede de contatos durante o período trabalhando em outra agência e, conversando com outros profissionais, decidi me arriscar. Já estávamos em cenário pandêmico e o marketing de influência mais do que nunca estava se mostrando necessário”, lembra.
Ela conta que, em março deste ano, a equipe saltou de três para 13 funcionárias, números que indicam o potencial do segmento. “Abrir uma empresa no Brasil é por si só um desafio devido às burocracias e taxas de impostos exorbitantes. Se é o seu sonho, avalie o tamanho da sua vontade porque não será fácil, mas não há nada como ver a empresa prosperando, gerar empregos e saber que estou contribuindo para mudar as estatísticas de mulheres em cargos altos. No final do dia vale a pena!”, avalia.
Delian Corrêa, 39, também deu o pontapé para iniciar seu negócio. “Minha vontade de empreender no setor de alimentos surgiu da minha aptidão e paixão pela cozinha brasileira e pelos pedidos de família”, conta a empresária que criou uma marca de farofa artesanal em junho deste ano.
Ela conta que as primeiras decisões tomadas foram a definição do produto, nome da marca, criação do logo, estudo de embalagem, prazo de validade e pesquisa sobre público-alvo e mercado. “Minha jornada tem sido desafiadora, mas bem-sucedida. Estou feliz com os comentários e elogios dos clientes, além de convites de programas de televisão para mostrar meu trabalho. Ainda não atingi minhas expectativas, porém o trabalho está fluindo muito bem e logo devo alcançar o objetivo de mil farofas por mês. Atualmente, vendo 150 mensalmente”, diz.
A dica dela é focar no objetivo. “Encontrei desafios, mas nunca deixei que eles travassem a minha caminhada. Tive medo de fracassar e também ouvi muitos palpites querendo me fazer desistir, mas fui forte e venci. Hoje, afirmo que abriria milhões de vezes a mesma empresa porque amo o que faço e estou super feliz com meu negócio”, comemora.
Quem também decidiu investir após perceber uma lacuna no mercado de tecnologia foi a mineira Bárbara Machado, 23. Em parceria com sua sócia, criou há 4 meses uma HR tech, tipo de startup que soluciona problemas do setor de recursos humanos. “No primeiro ano na universidade, me apaixonei por tecnologia e decidi que seria uma mulher em tech. Trabalhei como cientista de dados e desenvolvedora web em grandes empresas. Mas sentia falta de ver mais mulheres entre meus colegas nos times de tecnologia. Faltava referência, alguém que eu pudesse me espelhar”, diz.
E o negócio tem ido bem. “Conseguimos faturar mais de R$ 10 mil e testamos nosso produto com mais de 250 desenvolvedoras. No momento, contamos com mais de 30 clientes que vieram de forma orgânica, incluindo unicórnios brasileiros (startups que superaram o valor de US$ 1 bilhão). Além disso, firmamos parceria com 7 cursos de programação e mais de 15 faculdades e comunidades on-line de mulheres em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português) e temos 5 pessoas na equipe, com algumas novas contratações vindo nos próximos meses”, compartilha.
Segundo ela, a melhor forma de aprender sobre empreendedorismo é empreendendo. “Além disso, ter amigos que empreendem é muito bom, pois você pode tirar suas dúvidas com pessoas que já passaram pelo mesmo. Por fim, indico os livros “Zero to One” do Peter Thiel e o “The Lean Pexels-Rfstudio Startup” do Eric Ries”.