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Pandemia afeta fila de espera por oftalmologistas em BH

Hospital Evangélico de BH vai atender aos finais de semana para diminuir fila do SUS | Foto: CSOB 2019

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que 2,2 bilhões de pessoas tenham algum tipo de deficiência visual ou cegueira. Desses casos, 80% poderiam ser evitados. Globalmente, as principais causas desses problemas são os erros de refração não corrigidos e as cataratas. Em relação ao grau de dificuldade: 188,5 milhões de pessoas têm deficiência moderada, 217 milhões enquadram-se entre o nível moderado e grave e 36 milhões são cegas.

Para reduzir o número de pessoas cegas e com deficiência visual, a OPAS é categórica: garantir acesso aos serviços de cuidados com a visão, especialmente nas regiões pobres. Isso porque a incidência de doenças oculares é quase quatro vezes mais comum entre os pobres e analfabetos.

Mas, se a procura por consultas oftalmológicas já era grande, o presidente da Sociedade Mineira de Oftalmologia (SMO) e chefe do Centro de Oftalmologia do Hospital Evangélico (COHE), João Neves de Medeiros, alerta que a COVID-19 piorou a situação. “Existe uma demanda entre 15% e 20% da população por atendimento todo ano. Em Belo Horizonte, seriam necessárias de 300 a 400 mil consultas oftalmológicas anualmente. Desse total, 50% têm plano e esse índice cai para 150 a 200 mil. Durante a pandemia, além das pessoas não quererem sair de casa, os serviços eletivos diminuíram para garantir as normas de segurança. Porém, agora, já com a retomada das atividades, a oferta histórica de consultas já não é mais capaz de controlar a fila que se formou”, afirma.

Diminuir essa fila é um desafio à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) que, com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), mobilizou o COHE para apoiar a missão: até o final do ano, vai disponibilizar consultas com oftalmologistas aos sábados e domingos. A estimativa é de 1.200 atendimentos por fim de semana. “Foi nossa opção para uma resposta significativa até voltarmos a ter um controle dessa demanda reprimida, já que atender 100 pessoas a mais não teria um efeito sobre o problema. Nossa meta é atender 20 mil pacientes até dezembro”, estima Medeiros.

Quem já passou por essa fila é o auxiliar de serviços gerais Luiz Carlos da Costa, 48. “Aguardava ser chamado desde 2017 e sempre que ia ao posto de saúde a resposta era: ‘Aguarde’. E eu esperava, pois já fui orientado a não fazer exames em qualquer ótica devido estrabismo e a miopia, afinal, com o tempo, posso desenvolver glaucoma”, conta.

Ele relata que sentia dores de cabeça constantes, além da dificuldade para ler à distância. “Até hoje existe, mas, com uso de óculos, tive melhoras na visão. Fui num sábado e o atendimento foi excelente”, diz.

Cuidados com a visão

Quando o assunto é saúde dos olhos, Medeiros reforça que a prevenção é essencial para evitar casos irreversíveis. “As causas de cegueiras mais comuns são catarata, glaucoma, degeneração macular devido à idade e retinopatia diabética, sendo a catarata reversível e as outras não. Em relação às deficiências visuais, o principal motivo é o erro refracional”.

Além disso, existem períodos da vida em que a procura por um especialista é crucial, mesmo sem sintomas, porque existem doenças silenciosas. “Ainda na maternidade, é preciso fazer o teste do olhinho. Crianças de 6 a 10 anos necessitam de uma consulta, pois, muitas vezes, não relatam dificuldade na visão porque nunca enxergaram bem e isso só vai ser percebido a partir de um baixo desempenho escolar. Entre os 40 e 45 anos também é importante porque começa a surgir a presbiopia, que é a visão cansada, especialmente, para perto. Após os 60, é necessário ir de 2 em 2 anos, pois aumenta a frequência de catarata, glaucoma e degeneração macular”, explica o especialista.

Portanto, o primeiro cuidado é manter uma periodicidade de visita ao oftalmologista. “Sugerimos o uso de óculos escuros para diminuir a intensidade da luz que entra no olho porque, ao longo de décadas, isso acelera o envelhecimento do órgão. É fundamental o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) dependendo do trabalho da pessoa. O que mais vemos em serviço de emergência são trauma ocular e corpo estranho. Acontece da pessoa trabalhar em uma serralheria, não usar o equipamento e deixa ir muita sujeira e fagulhas nos olhos. No geral, não ser sedentário e ter uma alimentação saudável também ajudam a manter a saúde ocular”, diz.