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Por que reality shows fazem tanto sucesso?

Psicóloga explica o quanto este tipo de programa pode nos influenciar | Foto: Reprodução/Internet

 

Katiúscia Caminhas Nunes

Basta anunciar um novo reality show que não dá outra: só se fala nisso. Aconteceu com o Big Brother, exibido pela Rede Globo no início do ano e, agora, com A Fazenda, na Record TV. Seja por casos de superação, como o de Gil do Vigor, ou de polícia, como o possível estupro cometido pelo cantor Nego do Borel. Mas, afinal, por que será que esse formato de programa gera tanta comoção? É a vida que influencia o que acontece lá dentro ou o contrário? Para responder a essas e outras perguntas, o Edição do Brasil conversou com a psicóloga Katiúscia Caminhas Nunes.

Por que as pessoas gostam tanto de reality shows?

O gosto por esse formato não se restringe aos brasileiros. Os programas e páginas na internet, que visam transmitir ao público o dia a dia das pessoas, têm ganhado cada vez mais espectadores. A identificação com os integrantes, com suas trajetórias de vida, conflitos, dores, dificuldades e aspectos emocionais explicam essa crescente visibilidade. Além disso, durante a pandemia, vimos a busca pelos realities como forma de se ausentar e se envolver com questões fora da realidade.

Que tipo de impacto essas atrações causam em nosso dia a dia?

A presença dos realities faz a discussão sair das telas, passando a estar presente nos bate-papos entre familiares e amigos e, até mesmo, em conversas informais e nas redes sociais. Nos últimos programas foram levantados pontos e aspectos atuais em nossa sociedade como racismo, feminismo, machismo, homofobia, abuso sexual e respeito às diferenças. Eles aparecem como uma oportunidade de trazer esses assuntos tão necessários e provocar debates, trocas e reflexões.

Por outro lado, vemos que os comportamentos e vivências dentro dos realities e, a partir das identificações geradas, podem ocasionar gatilhos emocionais, acarretando sofrimento a alguns telespectadores. Além de motivar brigas e polarização de torcidas, sem de fato, em alguns momentos haver uma conversa em relação aos temas que fazem parte da nossa sociedade.

Tem sido comum a exposição de situações como possíveis casos de estupro e outras violências em realities, mas nem assim as pessoas deixam de assistir. Por quê?

Infelizmente, esse tipo de situação continua a acontecer tanto dentro de realities como fora deles. Vemos, diariamente, casos abusivos ocorrerem. Hoje, a sociedade de forma geral, diante desses tristes e lamentáveis episódios, busca e cobra por respostas. As redes sociais ganham papel de destaque, sendo a principal ferramenta de pressão social para que a emissora se posicione e tome as medidas cabíveis. A permanência por continuar assistindo se dá pela curiosidade em ver os desdobramentos e a postura que será adotada dentro do confinamento, identificação gerada a partir de tais acontecimentos e, até mesmo, pela sensação de controle e de busca de justiça por meio dos votos.

O que leva as pessoas a seguirem os participantes a ponto de brigarem para defendê-los?

A identificação e empatia sentidas são os principais fatores. O envolvimento da população com os participantes, com a vida deles dentro e fora dos programas, é crescente. A história, dificuldades enfrentadas, visão de vida, situações e posicionamentos vivenciados dentro do programa contribuem, sendo esses pontos importantes para a conquista de seguidores. Vemos que os realities se tornaram uma grande vitrine social para a busca por divulgação e fama.

É possível afirmar que os programas, de fato, mostram a realidade?

Os realities vêm com a proposta de mostrar a realidade vivida durante o confinamento. Acompanhamos, ao longo dos programas, a vivência de conflitos, sofrimento por parte dos participantes, dilemas amorosos, superação, disputa por relações de poder, preconceitos, dentre tantos outros pontos que, por não haver um roteiro preestabelecido, faz com que se assemelhem e tenham elementos próprios da existência humana. Entretanto, não podemos perder de vista que tais programas são apenas um recorte da nossa realidade e não ela em si. Um exemplo é o fato de pessoas diferentes participarem de festas e comemorações, enquanto o mundo vivia e sofria com o distanciamento social imposto pela pandemia.

Os realities deixaram de ser apenas entretenimento?

Eles ainda cumprem um papel importante em relação ao entretenimento. Contudo, os programas, por meio dos participantes, têm levantado questões relevantes para nossa sociedade, assumindo um lugar de discussão e representação dos problemas da realidade brasileira. Com isso, dentro do cenário atual, os realities passam a ocupar um lugar de reflexão sobre as dificuldades estruturais, discussões políticas, sociais e culturais. E isso fomenta os debates diários, fazendo com que a sociedade olhe e, muitas vezes, se escandalize com as fragilidades e outros temas inerentes a existência humana e a convivência social.