“Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos”, esse é o tema da campanha Agosto Dourado. O mês foi escolhido para conscientizar a população sobre a importância do aleitamento materno, por isso o Edição do Brasil decidiu fazer a série #LeiteDeMãe, que inicia essa semana e vai até o fim do mês, com matérias sobre essa temática. A proposta é frisar que a aleitação não é um encargo somente da mãe, mas de todos a sua volta, formando uma rede de apoio.
A enfermeira obstétrica e especialista em amamentação, Natália Paraíso, explica que essa rede pode influenciar a mulher frente à decisão de amamentar. “Isso tem um significado construído durante toda sua vida, trata-se de um contexto cultural e o companheiro e a família são peças fundamentais, pois trazem um auxílio valioso para essa mãe”.
Para a manicure Andressa Alves, a amamentação não teria sido possível sem o conforto da família. “No começo foi muito difícil, desconfortável, meu seio ficou ferido e chorava de dor. Mas sabia da importância do aleitamento. Meu marido e familiares me ajudaram bastante, principalmente a minha cunhada que já havia passado por isso e me orientou”.
Depois de um tempo, ela se adaptou e conseguiu seu principal objetivo: a amamentação exclusiva durante os primeiros 6 meses. “Essa foi a orientação da pediatra, pois isso aumentaria a imunidade do meu filho e evitaria uma série de doenças. Agora, com um ano, ele já come outras coisas, mas quero amamentá-lo até os 2 anos. O aleitamento é o melhor consolo do meu filho, além de estreitar nosso laço afetivo”.
A pediatra Lucia Morgado explica que, até o momento, a recomendação é de que a criança seja alimentada apenas com o leite materno até os 6 meses de vida e continue sendo amamentada até os 2 anos. “A aleitação até essa idade não é algo comum para a sociedade moderna, porém, os benefícios fazem com que essa seja uma recomendação válida e importante”.
Lucia conta que o aleitamento melhora a nutrição e crescimento pônderoestatural (curva de crescimento peso x estatura, segundo a Organização Mundial da Saúde); reduz a mortalidade infantil; diminui a morbidade e infecção respiratória; ameniza alergias e doenças crônicas; beneficia o desenvolvimento intelectual e relacionamento interpessoal; além de auxiliar no desenvolvimento da cavidade bucal.
Ela acrescenta que a mãe também se favorece do ato, uma vez que além do vínculo, a prática faz com que a perda de peso ocorra mais facilmente. “O útero retorna mais rápido ao tamanho normal, evitando anemia pós-parto. Fora isso, há uma diminuição no risco de desenvolver diabetes”.
A pediatra ressalta ainda que se trata de um dos alimentos mais completos que existe. “Ele é constituído de todos os nutrientes que o bebê precisa, como anticorpos e outras substâncias necessárias para sua nutrição. Não existe leite fraco ou aguado e a composição dele fornece a água ideal para manter a criança hidratada. Mesmo em dias quentes, está sempre fresco e na temperatura certa”.
Dor x Amamentação
A enfermeira obstétrica esclarece que não é comum a mulher sentir dor ao amamentar. Por isso, algumas técnicas podem ser utilizadas para corrigir a pega do bebê. “Quando está doendo, a mãe pode tirá-lo do seio e colocar novamente até conseguir diminuir o desconforto. Se o mamilo estiver ferido, a dica é passar o próprio leite no machucado, pois ele é cicatrizante e antibactericida”.
Ela explica que uma boa pega é essencial para o êxito da amamentação. “A boquinha deve estar bem aberta, de modo que o bebê abocanhe não só o bico, mas boa parte da aréola do seio. Ademais, é fundamental posicionar a criança de modo que a barriga dela fique junto à da mãe. Pode-se ainda desenrolar o bebê para que ele fique bem desperto na amamentação e engula tranquilamente o leite”.
Por fim, ela afirma que a amamentação pode começar logo quando o bebê nasce. “Ele estar junto da mãe nesse primeiro momento é um estímulo importante para o aleitamento. Para saber se a alimentação está sendo eficaz, é só observar se ele urina várias vezes ao dia e está ganhando peso. É bom ressaltar ainda que nem sempre o choro do bebê indica fome, às vezes pode ser outro desconforto ou sinal de que ele quer colo de mãe”.
O leite materno e a COVID
Durante a pandemia, várias pesquisas vêm sendo realizadas sobre a transferência de anticorpos entre mãe e filho. Alguns estudos feitos com lactantes apontaram que, após a infecção pela COVID, o leite materno transmite anticorpos para o bebê. Por isso, especialistas da área promoveram o aleitamento, mesmo com a mãe infectada, contanto que ela use máscara e higienize bem as mãos antes de pegar a criança.
Agora, novas análises vêm sendo realizadas, mas com outra vertente: a de que a mãe vacinada também passa anticorpos para o filho por meio do leite. Mas, assim como o próprio coronavírus, tudo ainda é muito novo e precisa ser estudado mais profundamente. “Não se sabe ainda se a transferência é homogênea, ou seja, se isso acontece com todas as mães. Nem quanto tempo essa proteção pode durar. Mas é uma possibilidade e deve ser usada como estímulo para promover a vacinação de gestantes e lactantes. Resta-nos torcer para que isso seja comprovado, pois se torna um ganho adicional proteger mãe e filho”, explica o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano.