Aatenção à saúde dos ouvidos tem sido negligenciada. É o que aponta o primeiro Relatório Mundial sobre Audição, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estima que quase 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo – o que corresponde a uma em cada quatro pessoas – viverão com algum grau de perda auditiva até 2050. De acordo com o documento, a falta de informações precisas e atitudes estigmatizantes em relação às doenças de perda de audição, muitas vezes, impedem os indivíduos de ter acesso a cuidados para essas enfermidades. Segundo a OMS, mesmo entre os profissionais de saúde, existe uma falta de conhecimento sobre prevenção, identificação precoce e tratamento da perda auditiva, dificultando sua capacidade de f o r n e c e r o tratamento necessário.
No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde, 2,2 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência auricular e o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece assistência a esse grupo desde 1993, por meio da atenção primária, atenção especializada em reabilitação auditiva e urgência e emergência.
Para o otorrinolaringologista Emerson Santos, apesar da falta de orientação, a situação já foi pior. “Em vista do que observamos há anos, as noções de cuidados relacionados aos ouvidos e à audição já melhoraram bastante. É o esforço contínuo que promove os resultados em médio e longo prazo e essa é uma das preocupações dos profissionais quando atendem os pacientes”, diz.
Principais causas
Como aponta o relatório, quase 60% da perda auditiva em crianças pode ser evitada por meio de medidas como imunização para prevenir a rubéola e meningite, melhoria da atenção materna e neonatal e triagem e tratamento precoce de otites médias, doenças inflamatórias que acometem o órgão.
Já em adultos, o controle de ruído, a escuta segura e a vigilância de medicamentos ototóxicos, juntamente com uma boa higiene do local, podem ajudar a manter uma boa escuta e reduzir o potencial de doenças.
“Nossa maior recomendação é evitar manipulações do canal auditivo. Uso de cotonete, grampos, tampa de caneta, etc ainda são relativamente comuns, mas sempre são contraindicados pelos otorrinolaringologistas devido ao potencial de agravar processos já instalados nos ouvidos ou gerar novas lesões do epitélio dessa estrutura, assim como na membrana do tímpano. Ainda alertamos os pacientes para que evitem utilizar aleatoriamente medicações no ouvido. Tal conduta também pode agravar processos já instaurados ou prejudicar tratamentos que sejam necessários para infecções do conduto auditivo externo ou ouvido médio”, completa Santos.
Segundo o médico, é preciso estar atento a alguns sinais. “Quando falamos de capacidade auditiva, as dificuldades em ouvir, entender o que é dito, zumbido, tonturas, etc sempre devem ser avaliadas pelo médico especialista. Coceira, sintoma de entupimento e presença de secreção drenando o ouvido também devem ser avaliados quando presentes. Para as crianças, atenção sempre às dificuldades relacionadas ao processo de aprendizagem, aquisição de fala e infecções repetidas dos ouvidos”, alerta.
Cuidado e higiene
Ainda de acordo com Santos, o tempo frio também afeta a região auricular. Isso porque as baixas temperaturas tornam as pessoas mais propensas às inflamações e infecções. “Em ambientes de frio extremo, quando a orelha fica exposta por períodos superiores a 15 minutos, sem nenhum tipo de proteção, já pode ser observado lesões na área externa. Em situações de exposição mais prolongada, o dano pode atingir as partes internas do órgão. Essa recomendação vale para qualquer pessoa, independentemente da idade”, afirma.
Outro ponto que merece atenção é a forma correta de higienizar a orelha. “Apesar de básica, essa é uma orientação que precisa ser levada a sério. O ideal é que a higiene seja feita apenas na parte externa com uma toalha, de forma delicada, evitando manipular o conduto auditivo e, dessa forma, empurrar a cera para dentro do ouvido. Geralmente, o excesso será expelido pelo próprio organismo, de forma natural, na medida em que ocorre a regeneração do epitélio. É um erro comum, porém grave, cutucar o ouvido com um cotonete ou grampo com o intuito de limpá-lo. O risco é de que essa medida desnecessária acabe traumatizando o órgão ou perfure a membrana do tímpano, o que poderia acarretar problemas mais graves à audição. É importante também proteger o local quanto à entrada de água e outros produtos líquidos que possam lesioná-lo”, adverte o especialista.